Brasileira passou 11 horas no mar para se salvar de incêndio no Havaí
O relato de Ana Carolina Penedo foi dado por meio de uma rede social. Até o momento, 93 mortes foram confirmadas
14:54 | Ago. 13, 2023
Ana Carolina Penedo e sua mãe perderam tudo nos incêndios florestais que atingiram a ilha de Maui, no Havaí, esta semana. O relato da brasileira foi dado por meio de uma rede social. Até o momento, 93 mortes foram confirmadas.
Segundo Carolina, ela não conseguiu evacuar o local a tempo, então ficou presa no fogo. A única opção era correr para o mar, onde ficou esperando em torno de 11 horas por um resgaste dos bombeiros.
"Foi aterrorizante. Eu tive que abandonar meu carro na rua, porque o fogo chegou e a gente, graças a Deus, teve o mar para se jogar para salvar", lembra. "Minha mãe não sabe nadar então não foi uma coisa tranquila [..] Em muitos momentos em que a gente estava lá, eu não sabia se a gente ia conseguir se salvar porque muita gente foi retirada da água sem vida", continua.
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Além disso, ela explicou que não teve qualquer alerta sobre o que estava acontecendo e ficou alheia a tudo.
"Eu demorei muito para evacuar, não tinha informação e estava desde 6 horas da manhã sem luz, sem sinal de celular, sem saber de nada. Não teve nenhum plano de evacuação eficiente em Lahaina ou alarme. Ninguém teve acesso a informação", expõe.
Carolina também afirma que o número de mortos está longe de ser o final e agradece a todos que estão dando apoio nessa situação difícil:
"Eu quero agradecer as mensagens, o amor. Qualquer ajuda é bem-vinda, seja material ou em forma de oração. Quem puder ajudar materialmente, muito obrigado, quem não puder, muito obrigado pela oração e amor".
Incêndio no Havaí: o que aconteceu?
O incêndio que acontece no Havaí é considerado o mais letal registrado nos Estados Unidos em 100 anos e afetou ou destruiu mais de 2.200 estruturas no povoado costeiro de Lahaina, no oeste do Mauí.
Foi o que informou a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA), que estima perdas de US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões na cotação atual).
Este desastre no Havaí ocorre depois de a América do Norte ter sofrido vários fenômenos climáticos extremos neste verão (hemisfério norte), desde incêndios florestais recordes no Canadá até uma onda de calor que atingiu o sudoeste dos Estados Unidos.
A Europa e algumas partes da Ásia também sofreram com ondas de calor, inundações e grandes incêndios. Os cientistas dizem que a mudança climática causada pela ação do homem agrava os desastres naturais, tornando-os mais comuns e letais.
As autoridades do Mauí restringiram a entrada a Lahaina e até mesmo o retorno dos residentes às suas casas. A polícia anunciou que proibiu o acesso, sob pena de até um ano de prisão e multa de US$ 2.000 (R$ 9,9 mil, na cotação atual) "até que a área afetada seja declarada segura".
As estradas que levam a Lahaina, pelo norte e pelo sul, estão bloqueadas e há longas filas de carros tentando voltar para ter notícias de seus entes queridos, suas casas, ou seus animais de estimação.
O chefe da polícia do Mauí, John Pelletier, explicou que apenas 3% da localidade foi inspecionada com cães farejadores e que as chamas causaram tantos estragos que apenas dois dos 89 corpos encontrados foram identificados.
Os incêndios devastaram mais de 800 hectares em duas ilhas do arquipélago e obrigaram à retirada de milhares de pessoas. Além disso, começaram na madrugada de terça-feira e seu rápido avanço colocou em risco mais de 35.000 pessoas em várias localidades da ilha do Mauí, informou a Agência de Gestão de Emergências do Havaí.
Incêndio no Havaí: moradores reclamam da falta de alertas
A revolta sobre o alerta aos moradores não é apenas da brasileira Ana Carolina Penedo, mas também dos outros que estavam na cidade.
"A montanha atrás de nós pegou fogo e ninguém nos disse", reclamou Vilma Reed, de 63 anos, que teve a casa destruída. Ela disse que sua família conseguiu fugir das chamas apenas com o que tinha no carro e agora depende de doações e da gentileza de estranhos.
"Esta é a minha casa agora", comentou a mulher, ao apontar para o carro onde dormiu com sua filha, seu neto e dois gatos.
A procuradora-geral do Havaí, Anne Lopez, anunciou a abertura de uma investigação sobre como a crise foi gerenciada, com "uma revisão exaustiva da tomada de decisões críticas e das políticas em vigor" na região.
Este é o incêndio mais mortal nos Estados Unidos desde 1918, quando 453 pessoas morreram em Minnesota e Wisconsin, de acordo com o grupo de pesquisa sem fins lucrativos Associação Nacional de Proteção contra Incêndios.
A legisladora democrata do Havaí, Jill Tokuda, disse à CNN que foram pego de surpresa pelas chamas. "Subestimamos a letalidade e a velocidade do fogo", admitiu.
Mauí teve problemas no fornecimento de energia, o que impediu que os habitantes recebessem alertas em seus telefones. Os moradores de Lahaina relataram não terem ouvido as sirenes de alerta, e muitos descobriram que o incêndio estava próximo quando viram seus vizinhos correndo e gritando.
"Temos que garantir que vamos fazer melhor da próxima vez", pediu a congressista Tokuda. (Com informações da AFP)