Petróleo é motivo de discórdia entre povos indígenas amazônicos no Equador
Um grupo de mulheres indígenas waorani adverte, com um canto de guerra, que impedirá que ambientalistas entrem em um bloco estratégico de petróleo localizado na Amazônia equatoriana, cuja produção pode ser suspensa por um referendo marcado para agosto.
O canto é entoado por sete mulheres de uma comunidade que apoia a atividade petroleira na região. O bloco 43 agrupa os campos de Ishpingo, Tambococha e Tiputini (ITT) e tem sido o centro da discórdia desde que o Tribunal Constitucional aprovou, em maio, um pedido feito há dez anos pelo grupo ambientalista Yasunidos, no qual uma consulta popular é solicitada para definir se o petróleo bruto deve ser deixado no subsolo por tempo indefinido.
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As mulheres fazem um "pedido às autoridades para que a consulta seja feita, mas com os donos" da terra - como os waorani - e não com quem "sequer seja do território".
Cercado por uma vegetação exuberante, no local fica uma das 12 plataformas de poços do ITT, que aporta atualmente 57.000 barris/dia (bd) para a produção total do Equador, de 464.000 bd entre janeiro e abril.
A Constituição do país reconhece que os povos indígenas "têm a propriedade coletiva da terra, como forma ancestral de organização territorial", mas mantém o poder do Estado sobre o subsolo.
O ITT está dentro do protegido Parque Nacional Yasuní, parte de uma das mais diversas reservas de biosfera do mundo, com 2.000 espécies de árvores, 610 aves, 204 mamíferos, 150 anfíbios, 121 répteis e 100.000 artrópodes, segundo a Universidade de Quito.
A comunidade Kawymeno, a cerca de quatro horas de Ishpingo no trajeto de caminhada mais canoa, é a única comunidade Waorani na área do bloco - localizada no extremo leste da província de Orellana (fronteira com o Peru).
Kawymeno, com 400 habitantes, bem como algumas comunidades da nacionalidade Kichwa situadas na área de influência do ITT, declararam-se defensoras da atividade petrolífera, que supre a ausência do Estado ao entregar obras.
"Se não houvesse a indústria petrolífera, não teríamos educação, saúde, bem-estar familiar", disse Panenky Huabe, presidente da aldeia, alguns de cujos habitantes trabalham no setor.
Para proteger a Floresta Amazônica, o Yasunidos e outros setores indígenas promovem a consulta popular, que será realizada em todo o país no dia 20 de agosto, juntamente com eleições gerais antecipadas. O governo se opõe à consulta.
Junto à sueca Greta Thunberg, a ativista equatoriana Helena Gualinga, do povo Sarayaku amazônico, disse na quinta-feira em Paris que a consulta "é um precedente extremamente importante, que pode ser replicado em todo o mundo, e deveria ser um sinal de esperança, de que as pessoas podem decidir que direção querem seguir" em relação ao cuidado ambiental.
No Yasuní, de 1 milhão de hectares, que também abriga duas tribos em isolamento voluntário, há outros campos de petróleo, em operação desde antes do ITT.
"Vemos como o extrativismo abusa do Yasuní no geral há muitos anos, desde a década de 1970, quando a exploração começou. Basicamente, o bloco 43 é o único com uma parte de mata que falta ser salva com a consulta", disse à AFP o advogado e porta-voz do Yasunidos, Pedro Bermeo.
O referendo divide a nacionalidade guerreira waorani, com 4.800 integrantes e donos de cerca de 800.000 hectares de floresta nas províncias de Orellana, Pastaza e Napo.
Em 2019, os waorani de Pastaza conseguiram uma decisão judicial histórica, que impede a entrada de empresas petroleiras em 180.000 hectares que permanecem intocados em seu território.
Para explorar o bloco, a estatal Petroecuador está autorizada a intervir em cerca de 300 hectares do milhão do Yasuní, tendo usado 80 deles. Já gerou para o Estado US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 20 bilhões) e suas reservas são estimadas em 282 milhões do total de 1,2 bilhão de barris.
Se o 'sim' vencer a consulta sobre a manutenção do petróleo bruto do ITT indefinidamente no subsolo, o prejuízo será de US$ 16,5 bilhões em 20 anos em receita projetada, abandono de campos, investimentos realizados e desemprego, ressaltou o gerente da Petroecuador, Ramón Correa.
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