Ministério da Defesa relata bombardeios horas depois de Kiev registrar terceira onda de ofensiva com drones em 24 horas. Ucrânia nega envolvimento. Ataques levantam questionamentos sobre sistemas antiaéreos russos.A capital russa, Moscou, foi alvo de diversos ataques com drones nas primeiras horas desta terça-feira (30/05), segundo relatou o Ministério da Defesa russo, horas depois de Kiev ter sofrido ataques aéreos pela Rússia pela terceira vez em 24 horas. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, a guerra vem sendo travada principalmente em solo ucraniano, apesar de Moscou ter relatado alguns ataques em seu território, chegando a definir um deles como uma tentativa de assassinato do presidente Vladimir Putin. Os ataques com drones alvejaram algumas das áreas mais abastadas de Moscou, incluindo uma região no oeste da capital onde Putin e a elite russa possuem residências. De acordo com o prefeito de Moscou, Serguei Sobyanin, os ataques causaram "danos insignificantes a vários prédios", e duas pessoas ficaram feridas e procuraram assistência médica. Além disso, dois blocos de apartamentos chegaram a ser evacuados por algumas horas. Não houve relato de mortes. Kiev nega envolvimento O Ministério da Defesa em Moscou afirmou que todos os drones foram interceptados, e acrescentou que "esta manhã, o regime de Kiev executou um ataque terrorista com drones a alvos na cidade de Moscou". O deputado russo Maxim Ivanov descreveu o ataque como o mais sério desde a Segunda Guerra Mundial, dizendo que nenhum cidadão agora pode evitar "a nova realidade". "Ou você derrota o inimigo de mãos dadas com a nossa pátria, ou a mancha indelével de covardia, colaboração e traição vai engolir sua família", afirmou. Se confirmado que a Ucrânia foi responsável pelo ataque, este seria um dos mais fortes e ousados a ocorrer na Rússia desde o início da guerra, há mais de 15 meses. Os ataques recentes levantaram questionamentos sobre a efetividade dos sistemas de defesa aérea da Rússia. O assessor da Presidência da Ucrânia, Mykhailo Podoliak, negou envolvimento direto do país nos ataques a Moscou. No entanto, Podoliak disse: "Estamos felizes em observar." E previu mais ataques. Mortes em Kiev A Ucrânia relatou que quatro pessoas morreram no país após os ataques da Rússia nesta terça, que deixaram 34 feridos, incluindo duas crianças. Na capital, forças de defesa da Ucrânia dizem ter derrubado mais de 20 drones Shahed, fabricados no Irã. A Rússia atacou a capital ucraniana 17 vezes este mês, usando drones ou mísseis. A maior parte dos ataques foi executada à noite, numa tentativa aparente de minar a determinação de combate dos ucranianos. O presidente Volodimir Zelenski afirmou que os sistemas antimísseis Patriot, fornecidos pelos Estados Unidos, estão atingindo uma taxa de interceptação de 100%. "O terror será derrotado", afirmou, em sua alocução noturna na segunda-feira. Guerra de versões Em entrevista à DW, Marina Miron, pesquisadora sênior do King's College em Londres, afirmou que o ataque a Moscou poderia ser "uma operação falsificada, o que quer dizer que os serviços de inteligência russos muito provavelmente" poderiam ser os responsáveis "pelo ataque com drones". Segundo a pesquisadora, o ataque pode servir para "reforçar a narrativa da Rússia e a necessidade de continuar a chamada 'operação militar especial'". Uma outra possibilidade, segundo Miron, seria a da versão da liderança da inteligência militar ucraniana, que falou de uma "resposta da Ucrânia a ataques com drones recentes a Kiev". Segundo a pesquisadora, será difícil obter "clareza" sobre os desdobramentos pelo fato de os dois lados terem "uma narrativa para impulsionar". Miron ainda destacou que drones vêm desempenhando um papel importante no conflito. "Para os russos, é uma forma de enfraquecer a defesa aérea da Ucrânia. E, para os ucranianos, é bom usar drones porque eles não possuem tanta munição." Contraofensiva A Ucrânia vem prometendo uma contraofensiva com armamento do Ocidente para tentar expulsar os russos de territórios ocupados desde o início do conflito. Segundo fontes militares ucranianas, nas linhas de frente no leste do país, tropas russas e unidades motorizadas chegaram a substituir unidades de mercenários do grupo Wagner na cidade de Bakhmut – o principal foco dos combates há meses. Moscou se diz aberta a retomar negociações de paz com os ucranianos, dizendo que a mediação de parceiros como Brasil e China é bem-vinda. A Ucrânia, por seu lado, afirma que a retirada de tropas russas do país é a única maneira de acabar com a guerra. rk/lf (Reuters, DW, AP)