Trabalho ou liberdade, o dilema levado a Cannes pelo filme argentino 'Os delinquentes'
Passar alguns anos na prisão ou toda uma vida trabalhando. Esse é o dilema que dois simples bancários enfrentam em "Os delinquentes", do argentino Rodrigo Moreno, apresentado nesta quinta-feira (18) em Cannes.
Morán, um trabalhador comum e aparentemente disciplinado, já fez sua escolha: melhor inventar um plano para roubar uma quantia equivalente ao seu salário durante 25 anos e poder desfrutar da vida após passar um breve período na prisão do que bater ponto todos os dias em seu emprego até se aposentar.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Essa história, inspirada livremente no filme policial argentino "Apenas un delincuente" (1949), permite Moreno retomar um dos seus temas favoritos, a separação entre o trabalho e uma vida mais livre e ociosa.
Embora no filme original de 1949, o protagonista sonhe em se tornar milionário com o fruto de seu roubo, em "Os delinquentes", Moreno decide que "seus" ladrões cometerão um "pequeno roubo", apenas o necessário para não precisar trabalhar mais e viver dignamente.
O espectador pode simpatizar com a filosofia desses personagens, dando-se conta de que "nossa vida se reduz ao trabalho", explicou o cineasta de 50 anos, em uma entrevista à AFP.
Exibido na mostra paralela "Um certo olhar", a segunda mais importante de Cannes, o filme tem cenas gravadas em Buenos Aires e em uma região montanhosa na província de Córdoba, no centro do país.
O espaço urbano representa a monotonia entediante do trabalho, quase como uma prisão, e as regiões em plena natureza são "libertadoras".
"Filmo o trabalho, a rotina, a pressão que essa rotina exerce sobre a pessoa, mas, ao mesmo tempo, tenho que filmar a incerteza da vida livre, a vida incerta, a vida que não sabe para onde vai te levar", acrescenta.