De réplicas a pinturas originais, artistas ganham fama em cidade chinesa
09:47 | Mar. 31, 2023
Os artistas da cidade chinesa de Dafen, conhecidos pela excelência em pintar réplicas dos principais quadros do mundo da arte, agora recebem um maior retorno financeiro pintando obras autorais.
Localizada no sul do país, a região possui mais de 8.000 artistas que, por muito tempo, se dedicaram à reprodução quase perfeita de pinturas mundialmente conhecidas. A fama era tanta que em seu auge, três a cada cinco pinturas vendidas no mundo vinham de Dafen.
As exportações de quadros, no entanto, sofreram um golpe fatal em 2020, quando a China fechou suas fronteiras devido à pandemia de covid-19.
Desde então, alguns artistas abandonaram suas atividades, mas outros se reinventaram, passando a criar obras autorais, aproveitando o destaque do mercado de arte da China, o segundo maior do mundo.
Autodidata, Zhao Xiaoyong vendeu réplicas de pinturas de Vincent van Gogh por 1.500 ienes (US$ 217 ou R$ 1.112). Agora, suas obras originais são vendidas por até 50.000 ienes (US$ 7.270 ou R$ 37.257).
Quando chegou a Dafen em 1997, vindo de uma aldeia no centro da China, ele e sua família viviam e trabalhavam com outras cinco pessoas em um minúsculo apartamento de dois cômodos.
"Naquela época, era como uma linha de montagem. Cada artista pintava uma pequena parte de um quadro, como um olho ou um nariz, antes que passar a outro pintor para que desenhasse um braço, uma perna ou uma manga de camisa", conta à AFP.
Depois de anos pintando réplicas, Xiaoyong juntou suas economias para visitar o Museu Van Gogh, em Amsterdã, e o Mausoléu de Saint Paul, em Saint-Rémy de Provence (sul da França), onde o artista pintou "A Noite Estrelada".
"Senti que finalmente poderia entrar no mundo dele, em vez de apenas copiar suas pinceladas", conta ele, que passou a assumir o seu estilo próprio para contar sobre a vida da cidade.
Em uma de suas pinturas, ele aparece carregando um autorretrato de Van Gogh em uma oficina onde outros artistas estão dormindo.
Desde que as restrições ao coronavírus foram suspensas no final de 2022 na China, vê-se um movimento maior de compradores estrangeiros nas ruas de Dafen em busca de uma pintura a um bom preço, mas também com um caráter mais exclusivo.
"A imagem impressa é coberta com pinceladas para parecer uma pintura real", explica um artista que pediu anonimato. "Os compradores acham que o fundo impresso é pintado com aquarela", acrescenta. Isso desencoraja ainda mais os artistas locais a pintarem apenas réplicas.
Wu Feimin é um dos que constrói sua carreira com obras inspiradas no budismo.
"Eu costumava copiar o trabalho de Picasso, mas agora tenho meu próprio estilo", diz ele, pintando um rosto gigante de Buda com uma espátula.
Vários artistas contaram à AFP que voltaram às escolas de arte durante a pandemia para aprender a pintar montanhas ou salgueiros-chorões - árvore típica da China -, elementos essenciais na pintura tradicional chinesa de paisagens.
"Os compradores chineses ricos querem uma arte que reflita a estética chinesa", explica Yu Sheng, um professor de arte que aproveitou a oportunidade para reaprender o estilo clássico para criar suas próprias pinturas enquanto continua exportando cópias de obras ocidentais.
De acordo com o docente, a prática diária assegura a eles uma "técnica melhor", em relação aos artistas formados nas grandes escolas. Em compensação, o contato com os principais comerciantes de arte da cidade ainda é limitado.
"Nossa sobrevivência depende do reconhecimento do nosso trabalho pelos profissionais chineses", afirma ele, que busca conquistar seu lugar no lucrativo mercado de arte chinês.
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