ONU: metade das vendas de água engarrafada cobriria acesso universal à água potável
Metade do dinheiro gasto em todo o mundo em água engarrafada, cujas vendas dispararam nas últimas décadas, seria suficiente para garantir o acesso universal à água potável - segundo um estudo da ONU publicado nesta quinta-feira (16).
Parar de consumir água engarrafada também reduziria efetivamente a poluição plástica, já que se estima que 85% das garrafas acabam em aterros sanitários, diz o relatório do Instituto da Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas em Hamilton, Canadá.
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Mas as preferências do consumidor são influenciadas por equívocos sobre a segurança da água da torneira e da água engarrafada.
"A percepção é que a água engarrafada é a opção mais saudável", disse à AFP o principal autor do estudo, Zeineb Bouhlel.
"Mas nós mostramos que isso não é necessariamente o caso, e as pessoas estão pagando muito mais pela água engarrafada, de 150 a 1.000 vezes mais do que por um litro de água da torneira", disse ele.
De acordo com o estudo, foram encontrados contaminantes em centenas de marcas de água engarrafada em mais de 40 países, muitas vezes excedendo os padrões locais, ou globais.
Na última década, as vendas mundiais de água engarrafada aumentaram 73%, chegando a quase US$ 270 bilhões e 350 bilhões de litros.
Cerca de 600 bilhões de garrafas plásticas são produzidas a cada ano, representando aproximadamente 25 milhões de toneladas de resíduos plásticos.
No Hemisfério Norte, os consumidores tendem a comprar água engarrafada, devido à sua portabilidade e à percepção de que é mais saudável e saborosa do que a água da torneira. Já no Hemisfério Sul, as vendas são, geralmente, impulsionadas pela falta de abastecimento público confiável de água.
O relatório também alerta para a falta de regulamentação do setor de água engarrafada, destacando a incapacidade dos governos de acompanhar a expansão desse setor.
Isso trouxe riscos, como "a extração descontrolada de água subterrânea para o engarrafamento", algo que pode levar ao esgotamento, ou à escassez, de água subterrânea, acrescenta o documento.
Vladimir Smakhtin, coautor do estudo, alertou que 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso à água potável de qualidade.
A situação é pior na África subsaariana e, globalmente, é agravada pela contínua expansão dos mercados de água engarrafada, que, segundo ele, desviam a atenção e os recursos do desenvolvimento de sistemas públicos de água.
Algum progresso foi feito, porém, argumenta o estudo. Em 2020, 74% da população mundial tinha acesso à água potável, em comparação com 62% há duas décadas.
Mas "estamos muito longe" de atingir a meta da ONU de tornar a água potável universalmente disponível até 2030, frisou Smakhtin, acrescentando que "a tendência atual não é sustentável".
"Devemos tentar investir mais no abastecimento público de água para fornecer água estável e confiável às pessoas, em vez de água engarrafada", disse ele.
Os autores do relatório pedem ainda uma maior transparência e o estabelecimento de medidas legais que obriguem as empresas a divulgarem publicamente os volumes de água captados e avaliar as consequências de suas atividades no meio ambiente.