Rússia é alvo de novas críticas na ONU
Dos crimes de guerra aos problemas de segurança internacional, a invasão russa da Ucrânia dominou, nesta segunda-feira (27), o início dos debates do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da Conferência sobre Desarmamento.
Após a adoção na Assembleia Geral da ONU, na semana passada, de uma resolução pela retirada "imediata" das tropas russas, a ONU e os aliados de Kiev lançaram hoje uma nova série de críticas contra Moscou.
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"A invasão da Ucrânia por parte da Rússia desencadeou a mais massiva violação dos direitos humanos que se conhece hoje", disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da 52ª sessão do Conselho de Direitos Humanos (CDH), que deve durar quase seis semanas, em Genebra.
Nunca o CDH se reuniu por tanto tempo, o que reflete a importância do momento, no ano em que se comemora o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou, por sua vez, o retorno do "velho autoritarismo" e das "guerras de agressão destrutivas, de uma época passada e com consequências mundiais", em uma referência ao que chamou de "invasão sem sentido da Ucrânia por parte da Rússia".
Além da ofensiva russa na Ucrânia, a situação no Irã, Síria, Nicarágua, Haiti e Etiópia também serão os grandes temas da 52ª sessão.
"Hoje é a Ucrânia, mas amanhã pode ser outro país vizinho", lançou o presidente de Montenegro, Milo Djukanovic, pedindo aos países que "não sejam neutros".
Na Conferência sobre o Desarmamento - que também teve início esta segunda-feira na sede da ONU -, o secretário de Estado britânico para a Europa, Leo Docherty, leu uma declaração em nome de mais de 30 países. Nela, afirmou que a invasão russa "é uma ameaça não apenas para a Ucrânia, mas também para a paz e a segurança internacionais".
"A Rússia danifica nossa arquitetura de segurança coletiva e põe em xeque nossa ordem mundial baseada nas regras do Direito", afirmou a ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna.
Previsto para esta segunda-feira, o discurso do representante chinês criou muitas expectativas, depois que Pequim apresentou um documento de 12 pontos, fazendo um apelo a Moscou e Kiev para negociações de paz.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, falará por videoconferência na quinta-feira (2).
Apesar dos pedidos de várias ONGs, não é possível saber se os diplomatas abandonarão o plenário durante o discurso do representante do Kremlin, como aconteceu no ano passado durante uma intervenção por videoconferência do chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.
No final dos debates, no início de abril, os 47 Estados-membros do CDH terão de se pronunciar sobre a continuação dos trabalhos de seus investigadores na Ucrânia. A equipe apresentará, em breve, seu primeiro relatório. Em setembro passado, já fizeram menção à possível ocorrência de crimes de guerra nesse conflito.
A embaixadora ucraniana Yevheniia Filipenko pediu um "reforço" da resolução, para determinar o mandato dos investigadores. Não há certeza, porém, de que o texto final refletirá o desejo de Kiev, devido ao possível bloqueio de outros países.
"Teremos que ser muito dinâmicos e muito ativos para que as outras resoluções dos países sejam aprovadas e evitar que um eixo China-Rússia-Irã-Venezuela-Cuba construa um muro contrário às resoluções", declarou um diplomata europeu à AFP.
No Irã, após a repressão das manifestações provocadas pela morte na prisão da jovem Mahsa Amini, está em debate o mandato do relator para o país.
"A prioridade é que o mandato seja prolongado. Mas a segunda prioridade é que o texto reflita a terrível deterioração da situação nos últimos meses, desde o assassinato de Mahsa Amini", disse um diplomata ocidental.