Governo da Colômbia reconhece perfil político do ELN para avançar em diálogos de paz
20:49 | Fev. 25, 2023
O governo da Colômbia reconheceu o ELN como uma "organização política armada rebelde" para avançar nas negociações de paz que visam a pôr fim a quase seis décadas de conflito, anunciou a guerrilha neste sábado (25), após uma rodada de diálogos no México.
"As delegações acordaram temas sem os quais é impossível desenvolver com clareza e firmeza este processo de paz: a caracterização jurídico-legal do ELN como organização política armada rebelde com a qual o governo nacional avança em diálogos de paz", destacou o ELN em um comunicado difundido no Twitter.
O anúncio ocorre após críticas do Exército de Libertação Nacional (ELN) à política de "paz total" do presidente colombiano, Gustavo Petro, por considerar que põe a organização no mesmo nível de outros grupos armados, incluindo narcotraficantes, aos quais o governo oferece um processo de sujeição à justiça em troca de benefícios legais.
Antonio García, um dos dirigentes do grupo, alertou em 6 de fevereiro passado que se o ELN continuasse sendo considerado GAO (grupo armado organizado), as negociações continuariam no ponto morto em que foram deixadas pelo ex-presidente Iván Duque.
"Saudamos os avanços na mesa de diálogos de paz entre o governo da Rep. da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (...) Cuba ratifica que fará todos os esforços ao seu alcance pela paz nesta nação irmã", escreveu no Twitter o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, citando o comunicado.
Os delegados também acordaram criar um canal de comunicação, que vai funcionar enquanto os diálogos estiverem pausados, assim como os termos nos quais os países que acompanharão as negociações vão participar.
A rodada do México começou em 13 de fevereiro com a expectativa de estabelecer as bases de um eventual cessar-fogo bilateral, mas o comunicado não menciona avanços concretos a esse respeito. Esta questão tensionou as negociações no fim do ano passado.
Surgido em 1964, no rastro da Revolução Cubana, o ELN se opõe a receber o mesmo tratamento dos demais grupos armados.
O ELN informou que as delegações também trabalham em uma agenda sobre assuntos como "a participação da sociedade neste processo de paz e o cessar-fogo de caráter bilateral".
Depois de quase quatro anos de suspensão, as partes retomaram as negociações em novembro passado, em Caracas, em busca de acordos que permitam pôr fim ao conflito com a última guerrilha reconhecida no país desde o desarmamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), em 2017.
Brasil, Chile, Venezuela, Noruega e México participam como avalistas desta segunda rodada de diálogos.
A primeira, que durou 21 dias, terminou com anúncios de libertação de reféns e ações humanitárias, mas sem o acordo de um cessar-fogo.
No entanto, as partes tiveram desencontros recentemente.
Em 1° de janeiro, o próprio presidente Petro, um ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19), anunciou que seu governo havia acordado um cessar-fogo de seis meses com cinco grupos armados, entre eles o ELN.
No entanto, três dias depois, o ELN negou ter acordado uma trégua com o governo.
Por fim, o governo colombiano suspendeu o cessar-fogo que tinha declarado e, em 30 de janeiro, o exército colombiano abateu nove supostos rebeldes do ELN em uma "operação ofensiva". Este foi o golpe mais duro contra este grupo armado desde que foi instalada a mesa de diálogos de paz com o governo Petro.
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