Sobreviventes da tempestade em SP diante do horror de ter perdido tudo
A tempestade que descarregou chuvas recordes durante o fim de semana de carnaval deixou muitos sem nada e matou 40 pessoas, 39 delas no município de São Sebastião
19:49 | Fev. 20, 2023
Patrícia da Silva fica atolada na lama ao entrar na casa de onde fugiu na madrugada de domingo com suas filhas, depois que uma torrente de lama e pedras destruiu parte de sua casa no litoral de São Paulo.
"Estou feliz porque a gente conseguiu sair de casa, eu e as crianças, mas estou triste ao mesmo tempo pela destruição", disse à AFP esta empregada doméstica de 31 anos, de cabelos e olhos escuros, que escapou por pouco de ser arrastada pela água enquanto dormia.
A tempestade que descarregou chuvas recordes durante o fim de semana de carnaval deixou muitos sem nada e matou 40 pessoas, 39 delas no município de São Sebastião, a 200 quilômetros da capital paulista.
No bairro de Juquehy, vários vizinhos ajudaram Patrícia a resgatar o pouco que restava da precária construção, indo e vindo com carrinhos de mão cheios da lama alaranjada que transformou a casa em um pântano.
O sofá arrebentado, colchões e restos de algumas cadeiras formavam uma pilha de lixo à beira da rua, onde a água ainda avançava.
Sulcos marrons povoavam os morros cobertos de verde à beira da rota costeira. Junto à praia, via-se um cenário de desolação e destroços, enquanto os sobreviventes não acreditavam no ocorrido.
Os deslizamentos de terra bloquearam estradas e dificultaram os resgates. Michael Alves abriu caminho entre os escombros para salvar seus parentes depois que sua casa foi arrastada por um rio de lama.
Seu pai estava "prensado na parede" e a esposa "soterrada aí", contou o ajudante de pedreiro de 30 anos, apontando para um monte de entulho formado por tijolos, eletrodomésticos e pedaços de móveis.
"Ligamos para os bombeiros, mas não conseguiram chegar", então "a família meteu a cara e conseguiu tirar eles", continuou. De seus pertences, ele só resgatou uma Bíblia e alguns utensílios de cozinha.
As chuvas afetaram os serviços básicos de eletricidade e água em diversas cidades do litoral paulista. Uma dezena de moradores formava fila em frente ao caminhão-pipa que enchia cisternas e tambores de água para aqueles que ficaram sem abastecimento.
Centenas de moradores tiveram que deixar suas casas, localizadas em áreas de risco, com um céu cinza ainda ameaçando a região.
Uma igreja evangélica abrigou cerca de 150 desabrigados, a maioria residentes do Morro do Pantanal, em Juquehy. O salão principal era um 'tetris' de colchões, e o altar, um depósito de doações. Do lado de fora, roupas e alimentos eram distribuídos.
Mas o abrigo pouco acalmava a angústia de Márcia Cavalcante, de 28 anos, que chegou no domingo com os irmãos após o deslizamento.
"Estávamos em casa e ouvimos um barulho muito alto e os gritos de socorro de uma família arrastada pela correnteza. Foi desesperador, mas não podíamos ajudá-los porque se não seríamos mais um", disse ela, tentando conter as lágrimas.
Entre as histórias tristes que os moradores contavam nesta segunda, repetia-se a de um casal e sua filha de dois anos, todos desaparecidos. As imagens registradas por Noemia Regina, que morava no alto do morro, deixaram poucas esperanças: lama, restos de árvores e mais lama. Nenhum vestígio da casa.
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