Praça Tupac Amaru, ponto nevrálgico dos protestos em Cusco no Peru

Com o punho cerrado, a estátua de Tupac Amaru II parece incentivar, desde o século 18, os manifestantes que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte em Cusco, a capital inca e turística do Peru, sacudida pela onda de manifestações que varre o país e já deixou 47 mortos desde dezembro.

A praça Tupac Amaru, que leva o nome do herói inca que lutou contra os colonizadores espanhóis, é o ponto de encontro cotidiano dos manifestantes na cidade.

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Na manhã deste sábado (28), dirigentes de todas as profissões pediam ao microfone para "seguir com a luta", exigindo a renúncia de Boluarte, a dissolução do Congresso e eleições gerais imediatas. Novos atos foram convocados para esta tarde.

Uma grande estrutura de apoio foi levantada na praça, com quatro tendas de campanha, onde voluntários elaboram refeições comunitárias para o café da manhã e o almoço dos manifestantes.

Uma das cozinheiras voluntárias Julia Chuquirimay, de 42 anos, comerciante de Cusco, diz que os alimentos são "força para os guerreiros, enquanto descasca bananas verdes.

"Para que eles possam lutar com mais força e vontade! É importante fazer comida agora, para os irmãos que vêm de lugares diferentes, às vezes sem comer. É um trabalho coletivo", declara.

Nas cozinhas existe uma verdadeira linha de produção: uma mulher coloca arroz em um recipiente, outra o cobre com lentilhas e uma terceira acrescenta cebola fresca. O menu é o mesmo para as centenas de pessoas na fila.

Um dos que esperavam por um prato de comida, Juvenal Quispe, de 31 anos, disse que veio "protestar contra Dina e pelo fechamento do Congresso".

"Agradecemos a cozinha comunitária pela comida que nos oferecem. Com esta comida, vamos poder seguir com os protestos com mais gente! Até o final!", acrescentou.

Na sexta-feira, centenas de pessoas se juntaram na praça antes da manifestação da tarde, enquanto acontecia um revezamento: dois ônibus chegavam trazendo manifestantes de Lima e outros se preparavam para seguir rumo à capital.

"É preciso ter gente em Lima porque lá estão os ministérios, o Congresso, as embaixadas. Nossas vozes soam mais alto", assinalou Francisco Condori, de 63 anos, que tinha acabado de passar uma semana em Lima e promete voltar.

"O povo de Lima não tem coragem. Não tem força nem coragem. O povo das províncias tem coragem porque sente isso no coração. Vamos fazer revezamentos em Lima", opinou Hernan La Torre, um comerciante de 50 anos, antes de embarcar rumo à capital.

Na praça, Edilberto Huarancay, 50 anos, um produtor de folhas de coca que também vive da venda de cítricos, viajou por oito horas de ônibus até chegar em Cusco. Ele ganha 200 sóis por mês, cerca de 52 dólares. "É pouco, nós, os camponeses [...], vivemos da terra."

Nesse sentido, Huarancay se revolta quando se evocam as acusações - inclusive feitas pela presidente - de que há financiamento do narcotráfico às manifestações.

"Esta mulher está louca. Ninguém nos dá nada. Queremos protestar. Estamos unidos e mais fortes. Não temos medo!"

pgf/dl/dga/rpr

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Peru política manifestação Pedro Castillo Dina Boluarte

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