EUA faz vigília por vídeo de espancamento mortal de afro-americano

A cidade de Memphis, no sul dos Estados Unidos, se preparava nesta sexta-feira (27) para possíveis manifestações em reação à difusão, prevista para o fim do dia, de um vídeo chocante que mostra o espancamento mortal de um homem afro-americano por cinco policiais também negros.

Temendo uma reação potencialmente explosiva, o presidente Joe Biden pediu que as manifestações sejam "pacíficas" e os mais altos funcionários condenaram esta tragédia nos termos mais enérgicos.

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A morte de Tyre Nichols em 10 de janeiro remete à do também afro-americano George Floyd, assassinado por um policial branco em maio de 2020. Na ocasião, as manifestações contra o racismo e a violência policial incendiaram o país sob o lema "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam).

"Quando meu marido e eu chegamos ao hospital e vi meu filho, já estava morto. Fizeram picadinho dele. Tinha hematomas por todas a parte. Sua cabeça estava inchada como uma melancia", disse, aos prantos, RowVaughn Wells, mãe de Nichols, em entrevista nesta sexta à CNN.

Wells disse aos jornalistas não ter visto o vídeo, mas advertiu que é "horrendo".

A chefe de polícia de Memphis, Cerelyn Davis, disse que as imagens das detenções do jovem de 29 anos são "iguais ou piores" do que as da surra contra Rodney King em 1991, que provocaram distúrbios que se estenderam por dias em Los Angeles e deixaram dezenas de mortos.

"Pretendemos compartilhar o vídeo através de um link no YouTube para que todos possam vê-lo", destacou, acrescentando que o que se vê mostra uma "espécie de efeito de grupo" entre os cinco policiais. "Ninguém mexeu um dedo para intervir", disse Davis.

Um dos advogados da família de Nichols, Ben Crump, deu alguns detalhes do vídeo nesta sexta.

Nichols "chama sua mãe três vezes. Suas últimas palavras são 'Mamãe! Mamãe! Mamãe!'", disse ao lado de Wells, que abaixou a cabeça, emocionada.

Em 7 de janeiro, policiais de Memphis quiseram deter Nichols por causa de uma infração de trânsito. Quanto os agentes se aproximaram, "houve um enfrentamento" e "o suspeito fugiu", segundo a polícia.

Por fim, Nichols foi pego e detido em circunstâncias que as autoridades até agora têm evitado descrever com precisão. A ordem precisa dos fatos e sua duração ainda geram dúvidas, assim como o tempo que transcorreu antes de que a vítima recebesse tratamento médico.

Nichols queixou-se de ter dificuldade para respirar durante a detenção e foi hospitalizado. Ele morreu três dias depois.

Os cinco policiais foram demitidos, acusados de homicídio e presos. Quatro deles foram posteriormente liberados sob fiança.

O vídeo do ocorrido "é absolutamente assustador", disse David Rausch, diretor do FBI no Tennessee, que investigou a detenção.

O diretor do FBI, Christopher Wray, se disse "horrorizado" e o procurador-geral americano, Merrick Garland, anunciou que foi aberta uma investigação federal sobre o caso.

Ao expressar seu horror, os advogados da família, assim como os pais do jovem elogiaram a "rapidez" das medidas tomadas contra os policiais.

Seu sogro disse que a família estava "muito satisfeita" com as acusações.

O reverendo Al Sharpton, um afro-americano famoso da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, disse ter falado com a família Nichols e pretende viajar a Memphis nos próximos dias.

"O fato de que estes agentes (de polícia) sejam negros torna isto ainda mais impactante para nós", afirmou em nota.

"Não se deve permitir que estes agentes ocultem suas ações por trás do fato de que são negros. Somos contra toda violência policial, não só a brutalidade policial cometida pelos brancos", acrescentou.

Nesta sexta, a polícia patrulhava a cavalo as ruas do centro de Memphis.

George Klein, que viajou de Atlanta, Geórgia, para assistir a shows na capital do blues, disse à AFP que estava "preocupado" com a possibilidade de violência à noite.

"O único que se pode fazer é evitar ir parar onde (as coisas vão) se complicar", disse este aposentado de 79 anos.

Em Washington, capital americana, e em outras cidades do país, a polícia se preparava para possíveis manifestações.

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EUA racismo polícia homicídio George Floyd Joe Biden Al Sharpton Rodney King Benjamin Crump

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