Crianças Yanomami desnutridas convalescem em hospital de Roraima

Na sala de um hospital infantil em Boa Vista, crianças Yanomami convalescem deitadas em redes. Os casos de desnutrição e malária infantil desta etnia indígena dispararam, impulsionando o governo federal a declarar emergência sanitária.

No Hospital da Criança Santo Antônio da capital de Roraima, um punhado de crianças se recuperam penduradas em redes azuis, com os braços e pernas debilitados. Uma delas tem a mão vendada.

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Ali são atendidos 59 menores indígenas. Destes, 45 são Yanomami e oito estão em cuidados intensivos, segundo o último balanço divulgado nesta sexta-feira (27) pela prefeitura de Boa Vista, que administra a unidade.

A grande maioria chega em "situação de desnutrição de moderada a grave", complicada por infecções como pneumonia, malária, gastroenterocolite e diarreia agudas, diz à AFPTV Eugênio Patrício, pediatra do hospital Santo Antônio.

"Esses pacientes, pela desnutrição em si, têm poucas reservas para combater as infecções. Então, essas infecções que poderiam ser leves em pacientes bem nutridos, neles acabam tendo uma repercussão muito mais intensa, chegando a ir(em) para a UTI", acrescenta.

Outros também são internados por picadas de cobra.

O hospital Santo Antônio é o único que recebe crianças de até 12 anos em todo o estado, no extremo norte da Amazônia legal, além de pacientes das vizinhas Guiana e Venezuela.

Para chegar, muitos pacientes indígenas são levados de avião de suas aldeias remotas no meio da floresta.

Os Yanomami - geralmente com oito anos ou menos - chegam à metade do peso ideal para sua idade ou inclusive menos, diz Patrício. "Chegam com uma fragilidade muito intensa", conta.

O Santo Antônio admite os casos mais graves, mas outras crianças e adultos são atendidos na Casa de Saúde Indígena (Casai), também em Boa Vista.

Devido à crise sanitária, começou a funcionar ali nesta sexta-feira um hospital de campanha, erguido pela Força Aérea brasileira. Foram instaladas várias barracas verde oliva no pátio do centro de saúde indígena, que é administrado por um órgão federal.

Na semana passada, o governo federal revelou que 99 menores de cinco anos morreram em 2022 na Terra Indígena Yanomami por desnutrição, pneumonia e malária, entre outras causas.

Depois que, durante uma visita, autoridades encontraram vários casos de menores desta etnia com desnutrição grave, infecções respiratórias e outras complicações, o governo federal decretou a emergência sanitária neste território protegido, a maior reserva indígena do país.

Além disso, a Polícia Federal abriu uma investigação por possível "genocídio" contra indígenas da etnia Yanomami, apontando para ações e omissões dos funcionários públicos e ex-dirigentes de Saúde durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).

As investigações também abrangem supostos crimes ambientais e desvio de recursos públicos.

A violência aumentou no território Yanomami, cenário habitual de confrontos entre indígenas e garimpeiros ilegais que mataram habitantes, abusaram sexualmente de mulheres e meninas e contaminaram os rios com o mercúrio usado para separar o ouro dos sedimentos, segundo denúncias de associações e indígenas.

O avanço do garimpo ilegal impulsiona a proliferação de doenças, como malária, tuberculose e inclusive a covid-19, segundo especialistas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) anunciou na quarta-feira que o governo de Bolsonaro, que defendeu a exploração da mineração e da agropecuária em terras indígenas e em várias ocasiões questionou a demarcação do território Yanomami, descumpriu decisões da mais alta corte do país e deu informações falsas sobre a situação deste povo.

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