A ameaça jihadista na Espanha, menos visível mas persistente

14:51 | Jan. 26, 2023

Por: AFP

O ataque a duas igrejas na quarta-feira (25) fez os temores pela ameaça jihadista ressurgirem na Espanha, que, nos últimos tempos, sofreu poucos atentados em comparação com seus vizinhos, e menos mortais que os anteriores, segundo especialistas.

Carlos Igualada, diretor do Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo (OIET), acredita que "são ações pontuais e não haverá uma campanha de atentados como aconteceu anos atrás", explicou à AFP.

"Desde o fim de 2017, o número de ações terroristas na Europa caiu consideravelmente e os ataques que estão acontecendo são de baixa letalidade, com armas brancas e nos quais apenas há a participação de um terrorista", acrescentou.

Então, prosseguiu Igualada, os atentados de agora estão longe daqueles "como os de Paris, ou os de Nice, Berlim e Bruxelas, onde foram contabilizadas dezenas de mortos".

Nesta quarta, um cidadão marroquino de 25 anos atacou duas igrejas na cidade de Algeciras, na Andaluzia (sul), matando um sacristão e ferindo um padre.

O governo não caracteriza essa ação como jihadista, mas a Audiência Nacional, instância competente em matéria de terrorismo, assumiu as investigações.

"Todos os elementos que caracterizam e identificam a metodologia jihadista estão presentes neste sujeito, há indícios 'a priori' bastante consolidados", avaliou Chema Gil, professor do Centro Universitário ISEN de Cartagena e codiretor do Observatório Internacional de Segurança, em declarações à rádio pública RNE.

Se é o que se conhece como "um lobo solitário ou não, isso deverá ser determinado pelas investigações", acrescentou.

Para trás ficam os atentados contra vários trens suburbanos de Madri em 2004, os ataques mais mortais já vivenciados na Europa, que deixaram 191 mortos e cerca de 2000 feridos. Ou os últimos grandes atentados na Espanha, na Catalunha em 2017, com 16 mortos e 240 feridos.

Se em 2004 a ameaça jihadista coexistia com a da organização armada basca ETA, que anunciou a deposição das armas em 2011 e sua dissolução sete anos mais tarde, agora a atividade policial tem se concentrado principalmente no islamismo radical.

O último Plano de Prevenção, Proteção e Resposta Antiterrorista (PPPyRA, na sigla em espanhol), que orienta a estratégia neste aspecto, é de 2022. Em sua apresentação, o ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, citou como um grande perigo, segundo um comunicado do governo, "os modernos processos de radicalização rumo a diferentes tipos de extremismo violento, em particular o de caráter jihadista".

Desde 2004, as autoridades prenderam quase 1.000 suspeitos de jihadismo na Espanha, segundo dados do Ministério do Interior. Em 2021, de acordo com o último relatório da Europol sobre terrorismo no continente, a Espanha deteve 40 e a França 140.

"É correto que na Espanha não tivemos esta frequência de atentados individuais como os ocorridos na França, na Alemanha e no Reino Unido", explicou à AFP Manuel Ricardo Torres, professor de Ciência Política na Universidade Olavide de Sevilha.

A normalização das relações com o Marrocos em 2022, depois de um período de dificuldade por causa da posição espanhola sobre o território do Saara Ocidental, cuja soberania é reivindicada por Rabat, também teve um papel na relativa tranquilidade vivida na Espanha nos últimos anos.

"A cooperação com o Marrocos no âmbito antiterrorista atualmente é muito boa", opinou o professor Torres.

"Isso permitiu alimentar muitas operações antiterroristas que se realizam a partir de informações fornecidas pelo Marrocos", acrescentou.

Na última grande operação conjunta, em outubro de 2022, a polícia espanhola deteve 11 pessoas em seu território e a marroquina dois no seu, por "suposta participação nos crimes relacionados ao fato de pertencer a um grupo terrorista", segundo o Ministério do Interior espanhol.

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