Em visita à Argentina, Lula diz que 'Brasil está outra vez de braços abertos'
"Hoje é o começo de uma nova história", disse nesta segunda-feira (23) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o significado de sua visita à Argentina, durante a qual reuniu-se com seu contraparte, Alberto Fernández, para refundar a relação bilateral de olho na integração da América Latina.
"Minha presença como primeira viagem (internacional) é para dizer (...) que vamos reconstruir a relação de paz, produtiva, avançada, e dois países que nasceram para crescer e se desenvolver" juntos, resumiu Lula na Casa Rosada ao lado de Fernández.
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"Estou de volta para fazer bons acordos com a Argentina", reforçou Lula. "O Brasil está outra vez de braços abertos", acrescentou.
O presidente, de 77 anos, manteve a tradição de fazer a primeira visita de Estado de seu novo mandato ao país vizinho e parceiro do Mercosul, bloco integrado também por Paraguai e Uruguai, para depois participar, na terça, da cúpula de presidentes da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), à qual o Brasil retorna após alguns anos de ausência.
O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, segundo dados oficiais publicados na semana passada pelo organismo argentino de estatísticas INDEC, com um intercâmbio bilateral próximo dos 29 bilhões de dólares em 2022.
Lula aproveitou seu retorno ao cenário político internacional para pedir "desculpas ao povo argentino por todas as grosserias" que atribuiu ao "último presidente do Brasil", sem mencionar o nome do antecessor, Jair Bolsonaro.
"A Argentina será tratada com o carinho e o respeito que merece. Nem o futebol será motivo para nos dividir", prometeu, após admitir que pela primeira vez torceu para a seleção arquirrival do Brasil durante a Copa do Mundo do Catar pela admiração que nutre por seu capitão, Lionel Messi.
Embora não tenham sido feito anúncios concretos, Lula e Fernández afirmaram que Brasil e Argentina vão explorar a possibilidade de desenvolver um mecanismo de intercâmbio comercial baseado em uma moeda comum que reduza a dependência do dólar.
Fernández, por sua vez, afirmou que a reunião da Celac será a oportunidade de "escutar todos os líderes do continente, com o propósito de favorecer a integração da região".
Mas a cúpula deste mecanismo de concertação, integrado por 33 países, que marca a volta do Brasil aos fóruns internacionais, será marcada por várias ausências, com a do presidente da segunda economia regional, o mexicano Andrés Manuel López Obrador, e o presidente venezuelano Nicolás Maduro.
A agenda oficial de Lula em Buenos Aires incluía um encontro com Maduro na tarde desta segunda, mas o Planalto retirou a reunião do calendário.
"Não sei se o Maduro vai vir. Fui informado de que talvez não venha", disse Lula à imprensa.
Uma hora depois, o chanceler venezuelano, Yván Gil, publicou no Twitter um comunicado confirmando que Maduro não viajaria.
"Fomos informados, de forma incontestável, de um plano elaborado no seio da direita neofascista, cujo objetivo é executar uma série de ações de agressão contra nossa delegação", chefiada por Maduro, diz a nota oficial, destacando que o chanceler vai representar a Venezuela na terça-feira.
Maduro foi denunciado por pessoas físicas e organizações civis perante a justiça argentina por violação dos direitos humanos e alguns dirigentes da oposição pediram que fosse detido ao chegar ao país.
"Todos os países-membros são convidados", disse Fernández sobre a controvérsia. "Nossa preocupação é restabelecer o diálogo entre os venezuelanos".
"O problema venezuelano se resolverá com diálogo e não com bloqueio", afirmou Lula, acrescentando que é preciso respeitar a "autodeterminação" da Venezuela. Ele criticou o reconhecimento do opositor Juan Guaidó, "um cara que não era presidente", como chefe de Estado encarregado por cerca de 50 países que não reconheceram a reeleição de Maduro em 2018 por considerá-la fraudulenta.
Lula reiterou que o Brasil vai retomar relações diplomáticas com a Venezuela, abrirá dentro de dois meses uma embaixada em Caracas e recomporá as relações com Cuba, cujo presidente, Miguel Díaz-Canel, já está em Buenos Aires.
Lula visita a Argentina após destituir, no sábado, o comandante do Exército, Júlio César de Arruda, por uma "fratura de confiança" após o ataque de bolsonaristas radicais às sedes dos Três Poderes em Brasília, pedindo uma intervenção militar que levasse à queda do presidente recém-empossado.
Em Buenos Aires, Lula afirmou que em seu governo os militares vão cumprir o papel que lhes é atribuído pela Constituição.
"O Brasil vai voltar à normalidade. As Forças Armadas vão cumprir com seu papel, o Poder Executivo vai cumprir com seu papel, o Poder Legislativo, e assim o Brasil vai ficar bem", resumiu.
"Eu escolhi um comandante do Exército que não foi possível dar certo e escolhi outro comandante. Ele pensa exatamente com tudo que tenho falado sobre a questão das Forças Armadas", respondeu Lula, perguntado por jornalistas.
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