Lima se soma a protestos por renúncia da presidente no Peru

Grupos de esquerda anunciaram nesta quinta-feira (12) manifestações em Lima para pedir a renúncia da presidente peruana, Dina Boluarte, e eleições antecipadas, como parte dos protestos que deixaram 42 mortos em pouco mais de um mês no país, com focos importantes em zonas andinas, como Cusco, cujo aeroporto foi fechado por precaução.

"Nem mais uma morte, abaixo a ditadura cívico-militar, racista e classista", diz o slogan nas redes sociais para a marcha em Lima convocada por um conglomerado de grupos sociais, sindicatos e partidos de esquerda.

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Os protestos entram em sua segunda semana consecutiva, após uma trégua durante as festividades do fim de ano, e são promovidas por setores radicais e sindicatos camponeses que também exigem justiça para as famílias que tiveram entes queridos mortos e punição para os responsáveis pelo uso desproporcional da força.

O Peru amanheceu nesta quinta-feira com bloqueios em 10 das 25 regiões do país, afetando cidades como Tacna, na fronteira com o Chile; Puno, Cusco, Arequipa e Madre de Dios, entre outras, detalhou a Superintendência de Transporte Terrestre.

As concentrações foram retomadas em Arequipa, Tacna e Cusco, enquanto na região de Puno, epicentro do movimento, começaram a ser enterrados os corpos das 17 vítimas dos confrontos da última segunda-feira com as forças de ordem em Juliaca.

A dor se prolongou hoje naquela cidade, após a morte de um jovem de 16 anos internado desde segunda-feira com ferimento de bala.

Além da renúncia de Dina Boluarte e da antecipação das eleições, os protestos exigem o fechamento do Congresso e a convocação de uma Constituinte para substituir a Carta Magna de 1993, promovida pelo então presidente Alberto Fujimori, que estabelece a economia de mercado como o eixo do desenvolvimento socioeconômico.

A mobilização na capital faz parte de um "golpe que querem realizar contra Lima nos próximos dias", havia dito na segunda-feira o chefe de gabinete, Alberto Otárola.

Segundo Otárola, os protestos "estão sendo financiados com dinheiro obscuro do narcotráfico", supostamente provenientes dos vales cocaleiros do sul andino.

Otárola, que obteve na terça-feira um voto de confiança para sua posse no Congresso dominado pela direita, retratou uma hipotética situação de guerra, lembrando que as forças de ordem defenderão Lima.

Ele responsabiliza o ex-presidente preso Pedro Castillo de ser "quem inflama as pessoas e coordena essas mobilizações em busca de impunidade".

Castillo foi destituído pelo Congresso e detido em 7 de dezembro após um fracasso autogolpe, ao tentar dissolver o Parlamento, intervir na justiça e governar por decreto. A vice-presidente Dina Boluarte, de 60 anos, assumiu a presidência em seu lugar.

Castillo, que era investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva ordenados por um juiz sob acusações de rebelião.

Em Cusco, uma das mecas do turismo mundial e ponto de partida para chegar à cidadela de Machu Picchu, o hotel Marriot foi atacado com pedras por vândalos durante uma marcha pelas ruas da cidade na noite de quarta-feira, com manifestantes furiosos após a morte de um líder camponês durante uma confronto com a polícia.

Moradores queimaram uma cabine no terminal regional de transporte terrestre, atacaram estabelecimentos comerciais e colocaram pedras na linha férrea. Segundo a polícia, 11 pessoas foram presas, incluindo um cidadão colombiano.

A Defensoria do Povo reportou mais de 50 feridos, entre eles 19 agentes da ordem. O governo fechou temporariamente o aeroporto internacional de Cusco, ante o risco de que ele seja tomado à força, apesar da presença de um contingente policial e militar.

Os protestos violentos iniciados há um mês já deixaram 42 mortos, incluindo um policial queimado vivo por uma multidão, segundo a polícia. O balanço trágico da violência no país motivou um apelo dos Estados Unidos por "moderação" a todas as partes, enquanto uma missão de observação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) está no Peru para avaliar a situação.

As Nações Unidas pediram que o governo respeite os direitos humanos e evite o uso desproporcional da força para reprimir os protestos. Também solicitou às diversas organizações por trás das manifestações que "se abstenham de atos de violência e exerçam o direito de protestar pacificamente, respeitando a vida e a propriedade pública e privada".

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