Polícia libera centenas de apoiadores de Bolsonaro após ataque a Brasília
19:29 | Jan. 10, 2023
A Polícia Federal (PF) libertou, nesta terça-feira (10), "por questões humanitárias" quase 600 pessoas detidas após o ataque às sedes dos Três Poderes no domingo em Brasília, com o qual pretendiam provocar a queda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Foram liberados 599 detidos, em geral idosos, pessoas com problemas de saúde, em situação de rua e mães acompanhadas de crianças", informou a PF em nota.
As autoridades detiveram mais de 1.500 pessoas após as invasões ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional, realizadas por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
As liberações ocorreram quase simultaneamente ao anúncio do ministro do STF Alexandre de Moraes de que as instituições brasileiras irão "combater firmemente o terrorismo".
"Agora reclamam porque estão presos, querendo que a prisão seja uma colônia de férias", declarou em alusão aos detidos, durante uma cerimônia em Brasília.
Mais tarde, segundo a imprensa local, o magistrado ordenou a prisão do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal (DF), Anderson Torres, responsável pela segurança de Brasília no domingo e exonerado após os atos violentos.
Agentes da Polícia Federal estiveram nesta terça na casa de Torres, que está de férias fora do país e, na segunda-feira, negou "qualquer tipo de conivência com as barbáries" ocorridas na capital.
Moraes já havia suspendido de suas funções por 90 dias, na noite de domingo, o governador do DF, Ibaneis Rocha, que havia pedido desculpas a Lula por falhas na segurança.
As forças de segurança e as autoridades de Brasília são criticadas por sua atuação com relação aos distúrbios. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram policiais filmando os ataques ao invés de intervir.
Até o momento, 527 pessoas foram presas e as demais estão sendo "submetidas aos procedimentos de polícia judiciária" para que seus destinos sejam definidos, acrescentou a PF.
Os indivíduos liberados estavam confinados em um ginásio da Academia Nacional de Polícia, na capital federal. Alguns foram transportados de ônibus para uma estação de onde puderam retornar para suas casas.
Os que seriam presos foram levados para delegacias e depois transferidos para o Complexo Penitenciário da Papuda, constatou um jornalista da AFP.
De um dos veículos, os passageiros gritavam "A vitória é nossa!". Alguns colocavam os braços para fora das janelas, com os punhos fechados ou fazendo o gesto de "V" de vitória.
"É só descansar e preparar para nova luta porque se eles acham que vão nos intimidar com isso, eles estão completamente enganados", declarou à AFP Agostinho Ribeiro, um dos bolsonaristas soltos, que reclamou do tratamento "humilhante" no ginásio.
Ribeiro afirmou que quando chegou aos prédios públicos já havia estragos e alegou que participou dos atos no domingo porque quer um Brasil "livre do comunismo".
A Polícia Federal desmentiu versões de que uma idosa teria morrido na segunda-feira na sede de sua academia.
"Todos foram bem tratados, ninguém morreu lá", contou à AFP uma mulher, também detida no local, que preferiu permanecer anônima.
Os 1.500 detidos participaram do ataque ou estavam no acampamento montado há dois meses em frente ao Quartel-General do Exército, de onde clamavam por uma intervenção militar contra o governo Lula.
A invasão e a depredação dos edifícios do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, que lembraram o episódio do Capitólio em Washington há dois anos, causaram danos materiais significativos, em especial a obras de arte de valor inestimável.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flavio Dino, disse nesta terça que cerca de 50 novas ordens de prisão serão emitidas em breve pelo que o governo chamou de "atos de terrorismo".
"Nós temos as duas situações. Pedidos de prisão que vão se referir a pessoas que estavam presentes destruindo o plenário da Câmara, Senado, Supremo e que não foram presas em flagrante", explicou em entrevista à GloboNews.
"E temos pedidos relativos a pessoas que não vieram a Brasília, mas participaram do itinerário criminoso. Organizadores, financiadores que já identificamos", completou Dino.
Influenciadores criaram uma conta no Instagram que permite aos internautas denunciar usuários que postaram fotos online em meio aos tumultos. O perfil já tinha mais de um milhão de seguidores.
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