Brasil inicia buscas por responsáveis de invasão a sedes dos Três Poderes
As autoridades brasileiras lançam, desde a noite de domingo (8), inquéritos e medidas judiciais após a invasão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Congresso, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal, em ataque condenado pela comunidade internacional.
Em cenas que lembraram as da invasão do Capitólio, em Washington, realizada há dois anos por partidários do então presidente americano Donald Trump, milhares de bolsonaristas romperam barreiras policiais e entraram nas sedes dos poderes em Brasília, quebrando janelas e vandalizando gabinetes.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava em Araraquara, em São Paulo, para observar os estragos causados pelas fortes chuvas na região, voltou a Brasília na noite de domingo para vistoriar o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.
"Os golpistas que promoveram a destruição do patrimônio público em Brasília estão sendo identificados e serão punidos", tuitou Lula.
"Democracia sempre", acrescentou o presidente, que despachará do Planalto nesta segunda-feira (9), apesar dos danos.
Pelo menos 300 pessoas foram detidas em consequência dos distúrbios, informou a Policia Civil do Distrito Federal
A Procuradoria-Geral da República determinou a abertura imediata de inquéritos que levem à "responsabilização dos envolvidos" nos atentados contra as sedes dos Três Poderes em Brasília.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, aliado de Bolsonaro, pediu desculpas a Lula e qualificou os responsáveis pelos atos de "verdadeiros vândalos" e "verdadeiros terroristas".
"Não acreditávamos, em momento nenhum, que as manifestações tomariam as proporções que tomaram", afirmou.
Rocha exonerou o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, que havia sido ministro da Justiça de Bolsonaro.
Por sua parte, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu que Rocha deve se afastar do cargo por 90 dias.
A Advocacia-geral da União (AGU) pediu ao STF a prisão de Torres e outros agentes públicos responsáveis por ações ou omissões, segundo a imprensa brasileira.
Moraes também ordenou a desocupação total - "em 24 horas" - dos acampamentos montados em frente ao quartel por apoiadores de Bolsonaro que estavam insatisfeitos com sua derrota para Lula.
Ao longo do dia, uma enxurrada de pessoas vestidas de verde e amarelo invadiu as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os bolsonaristas pediam uma "intervenção militar" para desfazer o governo de Lula, empossado há uma semana pela terceira vez, após ter governado entre 2003 e 2010.
Lula denunciou um "gesto antidemocrático" que "não existe precedente " no Brasil e anunciou punições legais contra os responsáveis pela destruição e "os financiadores de quem foi a Brasília".
Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos, para onde viajou a dois dias da posse de Lula, condenou através de um tuíte as "depredações e invasões de prédios públicos".
Em outra mensagem, o ex-presidente repudiou as acusações "sem provas" de seu sucessor. Mais cedo, Lula havia dito que o "discurso" de Bolsonaro "incentivou" os "vândalos fascistas" a invadirem as sedes da Presidência, do Congresso e do STF, localizados na Esplanada dos Ministérios.
Ao redor do mundo, vários chefes de Estados condenaram o ataque de apoiadores do ex-presidente de extrema direita.
O presidente americano, Joe Biden, o resumiu em uma palavra: "ultrajante".
Os líderes da França, Espanha, Argentina, Colômbia, Venezuela, Cuba e Chile, entre outros, também criticaram a invasão.
Durante horas, os bolsonaristas dominaram o centro do poder. Embora as autoridades tenham isolado a área, eles conseguiram abrir passagem à força, pular cercas e se concentrar na cobertura do Congresso Nacional, segundo um jornalista da AFP.
Um policial foi baixado de seu cavalo e agredido pela multidão. Pelo menos cinco jornalistas foram agredidos, segundo um sindicato da categoria, incluindo um fotógrafo da AFP.
Os danos aos edifícios, joias da arquitetura modernista, são consideráveis. Quadros de valor inestimável foram danificados, como a tela "Mulatas", de Di Cavalcanti, segundo fotos que circulam nas redes sociais.
De acordo com a rede CNN, manifestantes atearam fogo ao carpete do Congresso, que precisou ser inundado para apagar o incêndio. Membros do governo Lula denunciaram roubo de armas e munições do Planalto.
As autoridades retomaram o controle do centro do poder em Brasília após Lula decretar intervenção federal no estado.
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