Governo retoma sedes dos Três Poderes e Lula vistoria destruição em Brasília
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, retornou neste domingo (8) à noite a Brasília para vistoriar os estragos no Palácio do Planalto protagonizados por apoiadores de Jair Bolsonaro, que condenou sem veemência o vandalismo.
Lula, que passou o dia em Araraquara, em São Paulo, município atingido por enchentes provocadas pelas fortes chuvas, visitou o Palácio do Planalto e, em seguida, o Supremo Tribunal Federal (STF), que também foi vandalizado pelos bolsonaristas, assim como o Congresso Nacional.
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Imagens da Rede Globo mostram o presidente reunido à noite com ministros do STF em frente ao edifício, em meio a vidros quebrados por apoiadores de Bolsonaro que não aceitam sua derrota nas urnas.
Bolsonaro encontra-se nos Estados Unidos, para onde viajou a dois dias da posse de Lula. O ex-presidente nunca parabenizou o petista pela vitória apertada no segundo turno das eleições.
"Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos (...) fogem à regra", escreveu Bolsonaro no Twitter na noite deste domingo.
No entanto, em outro tuíte, Bolsonaro repudiou "as acusações, sem provas", de seu sucessor. Lula afirmou mais cedo que o "discurso" de seu antecessor "incentivou" os "vândalos fascistas" a invadirem as sedes do poder em Brasília.
"Esses vândalos, esses fascistas fanáticos, fizeram o que nunca foi feito na História desse país", acusou Lula, que ao completar uma semana no cargo já vê-se confrontado com uma crise de grande proporções.
Em resposta à violência em Brasília, o petista, de 77 anos, decretou intervenção federal, colocando as forças de segurança sob a autoridade do interventor Ricardo Garcia Capelli, nomeado pelo presidente e que se reporta diretamente a ele. Capelli poderá recorrer a qualquer órgão, civil ou militar, para garantir a ordem.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, garantiu em coletiva de imprensa que a Praça dos Três Poderes foi retomada pelas forças de segurança e que mais de 200 pessoas foram detidas.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, aliado de Bolsonaro, pediu desculpas a Lula e qualificou os responsáveis pelos atos de "verdadeiros vândalos" e "verdadeiros terroristas".
"Monitorávamos com o ministro (da Justiça e Segurança Pública), Flávio Dino estas movimentações (...) Não acreditávamos, em momento nenhum, que as manifestações tomariam as proporções que tomaram", afirmou.
Outros aliados do ex-presidente também criticaram os atos.
Pelo mundo, vários dirigentes condenaram a ocupação das sedes dos Três Poderes em Brasília.
O presidente americano, Joe Biden, qualificou de "ultrajante" a violência dos manifestantes, e seu secretário de Estado, Antony Blinken, declarou que "usar a violência para atacar as instituições democráticas é sempre inaceitável".
Os presidentes da França, Espanha, Argentina, Colômbia, Venezuela e Chile, entre outros, também repudiaram o ataque.
O braço no Brasil da Anistia Internacional pediu "uma investigação rápida e imparcial" dos acontecimentos, que lembraram a invasão de 6 de janeiro de 2021 do Capitólio de Washington por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, após sua derrota nas eleições para Joe Biden.
Durante horas, o centro do poder ficou mergulhado no caos. Embora as autoridades tenham isolado a área, os bolsonaristas conseguiram abrir passagem à força, pular cercas e se concentrar na cobertura do Congresso Nacional, segundo um jornalista da AFP.
Os policiais tentaram afastá-los com gás lacrimogêneos, mas foram rapidamente superados. Um policial foi baixado de seu cavalo e espancado pela multidão. Enquanto isso, ao menos cinco jornalistas foram agredidos, segundo um sindicato de jornalistas, entre os quais um fotógrafo da AFP.
A maré humana invadiu o Congresso Nacional, com muitos manifestantes agitando bandeiras do Brasil em um tom patriótico similar ao dos apoiadores de Trump.
Os danos aos edifícios, joias da arquitetura modernista, são consideráveis. Quadros de valor inestimável foram danificados, como a tela "Mulatas", de Di Cavalcanti, segundo fotos que circulam nas redes sociais.
De acordo com a rede CNN, manifestantes atearam fogo ao carpete do Congresso, que precisou ser inundado para apagar o incêndio.
"A gente precisa restabelecer a ordem após essa eleição fraudulenta", disse a um jornalista da AFP Sarah Lima, uma engenheira bolsonarista de 27 anos que participa das manifestações.
Alguns de seus apoiadores se manifestavam desde sua derrota para pedir intervenção militar para evitar a volta de Lula ao poder.
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