Videogames de guerra alimentam onda de desinformação
As pessoas que compartilham essas publicações são, segundo ele, "ingênuas" que tentam obter visibilidade ou seguidores na internet.Soldados se enfrentam em cidades em chamas. Mísseis derrubam caças. Drones pulverizam tanques. As imagens dramáticas parecem de combates da vida real, mas, na verdade, são trechos gravados de videogames que alimentam a avalanche da desinformação.
Imagens do jogo Arma 3, muitas vezes marcadas como "ao vivo" ou "notícias de última hora" para parecerem genuínas, foram usadas muitas vezes nos últimos meses em vídeos falsos sobre a ofensiva russa na Ucrânia.
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A facilidade com que essas imagens confundem o público, e muitas vezes até os meios de comunicação, preocupa os pesquisadores.
"O fato de isso continuar acontecendo é um lembrete de como é fácil enganar as pessoas", afirmou à AFP Claire Wardle, codiretora do Information Futures Lab da Universidade Brown.
"Com o aprimoramento da qualidade visual dos videogames, o CGI (imagens geradas por computador, na sigla em inglês) pode parecer real à primeira vista. As pessoas precisam saber como verificar a veracidade das imagens, principalmente como revisar os metadados, para que esses erros sejam evitados, principalmente pela mídia".
Arma 3, do estúdio tcheco Bohemia Interactive, permite gerar vários cenários de batalha usando aviões, tanques e um arsenal bélico. Muitos jogadores compartilham essas imagens em plataformas como o YouTube, o que facilita interpretações equivocadas.
Abaixo de imagens do Arma 3 intituladas "a contraofensiva da Ucrânia!", um usuário comentou, por exemplo: "Temos que pedir para a Ucrânia, depois da guerra, treinar as forças da Otan".
"Embora seja lisonjeador que Arma 3 simule a guerra moderna de maneira tão realista, não estamos felizes que o jogo possa ser confundido com imagens reais de combate e usado como propaganda de guerra", afirmou, em nota, um representante do Bohemia Interactive.
"Tentamos combater esse conteúdo denunciando-o às plataformas, mas é pouco eficaz. Por cada vídeo suspenso, outros dez são publicados", completou.
Nos últimos anos, imagens tiradas do Arma 3 também foram usadas para deturpar os conflitos na Síria, no Afeganistão e na Palestina, muitas vezes desmascaradas como notícias falsas por verificadores digitais.
A AFP rastreou vários desses vídeos, incluindo um de novembro que afirmava mostrar tanques russos sendo atacados por mísseis Javelin de fabricação americana. O clipe teve dezenas de milhares de visualizações nas redes sociais.
O Bohemia Interactive informou que os vídeos enganosos ganharam popularidade com a invasão russa da Ucrânia, também chamada de "Primeira Guerra TikTok" pelo vasto conteúdo e imagens sobre o conflito que surgem nas redes sociais.
Dada a natureza pouco sofisticada da desinformação criada a partir do Arma 3, os pesquisadores dizem que é improvável que seja obra de atores estatais.
"Eu suspeito que quem publica esse tipo de conteúdo são 'trolls' que o fazem para ver quantas pessoas conseguem enganar", disse à AFP Nick Waters, da empresa de análise digital Bellingcat.
As pessoas que compartilham essas publicações são, segundo ele, "ingênuas" que tentam obter visibilidade ou seguidores na internet.
O Bohemia Interactive disse que os vídeos falsos foram "maciçamente compartilhados" por usuários das redes sociais, que em muitos casos os usam como "isca", de acordo com os pesquisadores: são postagens chamativas que geram mais engajamento com opções como "curtir", "compartilhar" e "comentar".
Meios de comunicações e governamentais também caem na farsa
O canal romeno Romania TV colocou no ar um vídeo antigo de Arma 3 em novembro que mostrava combates na Ucrânia, e um ex-ministro da Defesa e um ex-chefe de inteligência comentaram as imagens como se fossem autênticas.
Isso aconteceu depois que outro canal de notícias romeno, Antena 3, cometeu o mesmo erro em fevereiro: entre os especialistas convidados pela emissora para analisar seu vídeo retirado do Arma 3 estava o porta-voz do Ministério da Defesa romeno.
O Bohemia Interactive pediu aos usuários que usem as imagens do jogo com responsabilidade, evitem usar títulos de vídeo como isca e declarem claramente que a fonte é um videogame.
Os investigadores dizem que seus clipes são relativamente mais fáceis de verificar do que os "deepfakes", que são imagens, áudios e vídeos fabricados com tecnologia que os especialistas alertam ser altamente sofisticada e cada vez mais presente no submundo do crime.
"Na verdade, esses vídeos (do Arma 3) não são tão difíceis de identificar como falsos", explicou Waters, lamentando que "muita gente não tenha habilidade" para detectar a desinformação.
"Por mais realista que o Arma 3 pareça, ainda é significativamente diferente da realidade", explicou Waters.
O fato de muitos não perceberem que essas imagens não são reais mostra outra dura realidade na era da desinformação: "Algumas pessoas não têm as habilidades para navegar no ambiente da informação atual", concluiu.
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