Morre o escritor alemão Hans Magnus Enzensberger

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Hans Magnus Enzensberger em foto de 2013Ensaísta, poeta, crítico cultural, tradutor e editor: Hans Magnus Enzensberger foi um dos intelectuais públicos mais conhecidos da Alemanha do pós-guerra. Ele tinha 93 anos.O poeta, ensaísta, tradutor e editor alemão Hans Magnus Enzensberger morreu nesta quinta-feira (24/11) em Munique aos 93 anos, segundo anúncio da editora Suhrkamp divulgado nesta sexta-feira, com informações da família do autor. Por mais de seis décadas, Enzensberger alimentou o mundo literário internacional com obras pensativas, poéticas e altamente sofisticadas. Ao lado de Günter Grass, Uwe Johnson, Heinrich Böll e Martin Walser, ele foi um dos nomes mais influentes da literatura alemã do pós-guerra. Nascido em 11 de novembro de 1929, filho de um técnico de telecomunicações, ele cresceu na cidade de Nurembergue, na Francônia, Baviera. Era o mais velho de quatro filhos. Desde cedo, arriscava suas primeiras incursões literárias: elas o interessavam bem mais do que o treinamento militar na Juventude Hitlerista, de que logo foi expulso, por mau comportamento. Em 1944, aos 15 anos de idade, Enzensberger foi recrutado para a milícia nazista Volkssturm, porém conseguiu desertar pouco antes do fim da Segunda Guerra Mundial. "Tive sorte com os meus pais. Eles não eram combatentes da Resistência, mas também não eram nazistas. Desse modo eu tive, desde o início, uma visão diferente da assim chamada comunidade popular nacional-socialista", disse o autor. Em 1949, precipitou-se com afã nos estudos de literatura, aprendeu idiomas e já em 1955 se formava doutor em Filosofia. Paralelamente, publicou seus primeiros textos, sendo pouco mais tarde aceito como membro do legendário Grupo 47. Os integrantes desse fórum de literatos se encontraram durante 20 anos, a partir de 1947, com o intuito de renovar a literatura alemã. Testemunho dos debates da época é uma troca de cartas entre Enzensberger e a poetisa Ingeborg Bachmann, publicada apenas em 2018. Ironia contra o peso existencialista Contudo, logo a Alemanha se tornou pequena demais para Enzensberger. Seus anos de revolta e aventura juvenil o impulsionam para o mundo. Extensas viagens pelos Estados Unidos, México, Noruega e Itália lhe garantiram uma internacionalidade que lhe foi tão importante durante o restante da sua vida. Em 1957, seu primeiro livro de poemas Verteidigung der Wölfe gegen die Lämmer (Defesa dos lobos contra os cordeiros) foi publicado. Em 1960, passou a trabalhar na renomada editora Suhrkamp e publicou suas primeiras e elogiadas antologias poéticas. Cinco anos mais tarde, criou a revista cultural Kursbuch, que se tornou a referência intelectual dos estudantes revolucionários que saíram às ruas em 1968. Enzensberger participou dos debates políticos da época com voz forte, moldando a opinião pública. Seu primeiro volume de poesia já havia causado sensação quando foi publicado em 1957. Assim como tantos autores politicamente engajados da recém-fundada República Federal da Alemanha, o jovem Hans Magnus Enzensberger vinha para destroçar o peso da lírica existencialista do pós-guerra. Sua resposta a esta foi uma poesia levemente irônica e títulos provocadores como Selos de desconto, País-modelo/Covil de assassinos ou Está indo para cima, mas não para a frente. Descobridor de talentos Em 1963, ele recebeu o Prêmio Georg Büchner, a que se seguiram outras distinções de peso: o Heinrich Böll, o da Crítica Alemã, o Luddwig Börne e o dinamarquês Prêmio Sonning. Após o lançamento de seu único romance O curto verão da anarquia, ele se instalou em Munique como autor independente em 1979. Já no ano seguinte mergulhou numa aventura editorial, juntamente com um amigo, o escritor chileno Gaston Salvatore. Entretanto a ambiciosa revista literária Trans Atlantic não sobreviveu mais do que dois anos. Ao lado do artista-encadernador Franz Greno, em 1985 Enzensberger lançou a série Die Andere Bibliothek (A outra biblioteca), contendo seus títulos preferidos da literatura mundial. Hoje, esses volumes são considerados verdadeiros tesouros bibliófilos. Com sensibilidade editorial para descobrir talentos, o autor bávaro foi o primeiro a colocar reportagens literárias no mercado livreiro alemão. Assim, foi responsável tanto pelo sucesso do autor e jornalista polonês Ryszard Kapuściński, quanto pelo de prosistas e poetas como Raoul Schrott, Irene Dische, Christoph Ransmayer ou W.G. Sebald. Reinvenção constante Após uma longa pausa produtiva, Enzensberger retornou à cena poética em 1991, com a coletânea Zukunftsmusik (Música futura). Também publicou sob pseudônimos como Linda Quilt (Schreckens Männer. Versuch über den radikalen Verlierer– Homens terríveis. Ensaio sobre o perdedor radical) ou Serenus M. Brezengang. Como ensaísta, continuou a intervir nos debates, comentando a Guerra do Iraque, as pesquisas genéticas e os polêmicos testes de inteligência. Com Tumulto (publicado no Brasil pela editora Todavia), em 2014, lançou o seu primeiro texto com características ligeiramente autobiográficas: "Confissões não são o meu forte. Está longe de mim expor a paisagem da minha alma perante o público", disse à época à revista alemã Der Spiegel. Volume de trabalho Enzensberger publicou não apenas sob seu próprio nome, mas também usando pseudônimos, sendo o mais conhecido Andreas Thalmayr, sob o qual publicou um manual para autores iniciantes Schreiben für ewige Anfänger (Escrita para eternos iniciantes) em 2018. Além de Linda Quilt, outro pseudônimos atribuídos a ele era feminino: Elisabeth Ambras, que ainda foi usado em 2019, com a publicação de Fremde Geheimnisse (Estranhos segredos). A já extensa obra de Hans Magnus Enzensberger inclui vários outros títulos, entre eles vários que foram lançados no Brasil, como Hammerstein ou a obstinação e o poema longo O Naufrágio Do Titanic, publicados pela Companhia das Letras. Enzensberger era pai de duas filhas, Tanaquil, nascida em 1957, do primeiro casamento com Dagrun Kristensen, natural da Noruega, e Theresia, nascida em 1986, do terceiro casamento com a jornalista Katharina Bonitz. Enzensberger também foi casado com a russa Maria Makarowa no final dos anos 1960. Em sua obra autobiográfica Tumulto, ele abordou esse episódio de sua vida e disse que ele se assemelhou a um "romance russo".

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