Analistas questionam afirmações ucranianas sobre nova ofensiva russa

12:21 | Dez. 17, 2022

Por: AFP

A Ucrânia afirma que a Rússia prepara uma nova ofensiva contra Kiev para o início do ano que vem, mas analistas duvidam que Moscou possa recuperar e reagrupar suas forças para uma operação de tamanha envergadura em um período muito curto.

Em uma entrevista à revista britânica The Economist, o comandante em chefe do exército ucraniano, Valery Zaluzhny, afirmou que prevê que a Rússia volte a realizar uma ofensiva contra Kiev nos primeiros meses de 2023.

"Os russos estão preparando cerca de 200.000 soldados [...] Não me resta dúvida de que voltarão a atacar Kiev", declarou.

O ataque poderia acontecer "em fevereiro, no melhor dos casos em março e, no pior, no final de janeiro", acrescentou.

Apesar de a Rússia ter conseguido mobilizar 300.000 reservistas entre setembro e outubro, os especialistas militares consideram que as novas tropas não estarão suficientemente treinadas para realizar uma nova ofensiva contra a capital ucraniana.

As primeiras investidas em fevereiro e março, pouco depois da invasão, acabaram em humilhação. A forte defesa ucraniana e os problemas de abastecimento, inteligência e comando nas fileiras russas tornaram a operação um fracasso.

"Uma ofensiva assim não me parece muito provável, mas, ao mesmo tempo, não é impossível", declarou à AFP o analista militar independente russo Alexander Khamchikhin.

Para o especialista militar americano Michael Kofman, um nova ofensiva da Rússia um "cenário bastante improvável".

"[Eles] têm limitações importantes de munição e o desempenho dos militares russos agora depende muito da disponibilidade de munição de artilharia", declarou Kofman no podcast "War on the Rocks".

Washington também questionou as afirmações ucranianas. "Não vemos nenhum indício" de uma ofensiva iminente contra Kiev, afirmou na sexta-feira (16) o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.

Por sua vez, o porta-voz do Pentágono, Pat Ryder, não quis "especular sobre possíveis operações futuras", mas lembrou que "a Rússia continua tentando empreender ações ofensivas".

As capacidades militares russas na Ucrânia dependerão, sobretudo, de Sergei Surovikin, o novo general nomeado em outubro à frente das forças de Moscou.

O militar é um veterano da guerra soviética no Afeganistão, da segunda guerra da Chechênia nos anos 2000 e da campanha síria de 2015.

Surovikin "trabalha na unificação do exército" e elabora "quase, com toda a certeza, planos de batalha centrados, ao contrário de ações que, anteriormente, dispersaram as tropas russas", escreve o ex-general australiano Mick Ryan no site Foreign Policy.

Moscou compensou suas grandes perdas com uma vasta mobilização, mas o moral dos soldados ainda é frágil, insistiu o australiano.

O general Surovikin, no entanto, "começará a preparar suas tropas para novas operações", assinalou.

A estratégia do presidente russo, Vladimir Putin, já provocou surpresas antes e não se pode descartar nada.

Um ataque contra Kiev seria extremamente complicado e seria quase impossível capturar a capital sem destrui-la por completo.

"Tomar uma cidade sem destruí-la é difícil, a não ser que decida se render, como Paris em 1940", comentou Khamchikhin.

Para Pascal Ausseur, diretor do think tank Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos, as afirmações ucranianas são um esforço para manter a atenção de seus aliados ocidentais.

A Ucrânia resiste à invasão russa e conseguiu reconquistar parte de seu território graças à ajuda financeira ocidental e ao fornecimento de armamentos.

Moscou aposta no longo prazo e no enfraquecimento da ajuda do Ocidente, sobretudo diante do cansaço da opinião pública devido à inflação e à crise energética.

Os ucranianos estão pedindo aos gritos que continuem os ajudando e que não os abandonem, apontou Ausseur. A Ucrânia lembra que ainda pode "perder tudo", acrescentou.

Segundo o especialista, as afirmações poderiam ser também uma tática para preparar um ataque no sul do país.

"Me pareceria estranho que os ucranianos se colocassem em posições defensivas, o que os impediria de lançar uma operação ofensiva antes de março", comentou.

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