Polarização eleitoral chega a uma igreja católica de Copacabana
16:32 | Out. 30, 2022
"O verdadeiro cristão vota em Lula", grita uma eleitora do ex-presidente para um apoiadora de Bolsonaro, na porta de uma igreja católica de Copacabana, no Rio de Janeiro, cujo anexo serviu neste domingo (30) como local de votação.
O ambiente ficou agitado na igreja Nossa Senhora de Copacabana depois da missa de domingo, enquanto o país vai às urnas para escolher quem será o ocupante do Palácio do Planalto nos próximos quatro anos: o ex-mandatário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL).
Joana d'Arco Perina, militante do Partido dos Trabalhadores (PT), é uma católica devota e fica vermelha ao ouvir Elizabeth de Souza defender Bolsonaro. Para Joana, ele "destruiu tudo".
"Bolsonaro foi enviado por Deus para nos salvar. Lula tem pacto com o diabo", respondeu Elizabeth, vestida com uma camiseta verde e amarela com a frase "Meu partido é o Brasil".
Esta aposentada de 69 anos, também católica, afirma que esta disputa eleitoral é uma "batalha do bem contra o mal", um discurso também repetido pela primeira-dama, a evangélica Michelle Bolsonaro.
A religião está no centro da campanha no Brasil, um país de 215 milhões de habitantes, católicos em sua maioria, embora um terço da população se denomine evangélica.
Os evangélicos tendem a preferir Bolsonaro e os católicos, Lula, mas os candidatos aumentaram seus acenos aos dois grupos na reta final da disputa eleitoral.
"Família para mim é coisa sagrada", disse Lula na semana passada em uma reunião com líderes evangélicos.
Mas os recentes esforços do ex-sindicalista de se aproximar dos fiéis não convenceram Edval Máximo, de 41 anos, que votou em Bolsonaro.
"Nunca vi Lula em uma igreja falando a palavra de Deus. Só agora, que está em campanha, está falando", disse este homem que trabalha como porteiro e é nordestino como o ex-presidente.
"A esquerda, os comunistas, eles odeiam a religião", acrescentou.
Quase 60% dos entrevistados pelo Datafolha acreditam que a questão religiosa seja um fator determinante na eleição. Uma pequisa recente do mesmo instituto indicou que este fator era mais importante entre os eleitores de Bolsonaro.
"Não sou a favor do aborto. Eu voto para quem defende a família: o Mito", disse Magali Zimmermann, de 67 anos, em alusão ao apelido dado ao presidente por seus apoiadores.
Mas nem só a religião pesa em sua escolha. "Amo Copacabana, mas estou com medo de sair na rua por causa dos ladrões", afirma a moradora deste bairro da zona sul carioca, onde moram muitos aposentados.
"Ele não é perfeito, mas vai nos trazer segurança", disse esta viúva, que não perde uma missa.
No fundo da igreja, Eduardo Jorge ergue as mãos para o alto e canta palavras de louvor a Deus. É uma das poucas pessoas que usa uma camiseta vermelha, cor do PT, em meio a uma multidão em que predomina o verde e o amarelo.
"Eu acredito em um Deus que distribui", disse este eleitor de Lula ao sair da missa.
"Eles (bolsonaristas) utilizam a fé para defender seus interesses e não os pobres. Precisamos que o Brasil volte a oferecer oportunidades às pessoas", disse o assistente social de 53 anos.
Os brincos com a bandeira do Brasil são um sinal claro de quem Esther Ferreira apoia. Ela diz que "sem dúvida" votará em Bolsonaro, principalmente porque odeia a esquerda.
"Sou católica, mas ele poderia ser ateu ou judeu, eu votaria nele porque o que importa é o que uma pessoa faz e eu gostei muito de que ele fez", afirmou.
Wilson Rodrigues Santos tem uma tatuagem colorida de Jesus em seu antebraço. Mas este eleitor de Lula insiste em que não foi a religião que influenciou em sua decisão de votar no ex-metalúrgico.
"Tudo foi muito ruim com Bolsonaro. O Lula precisa voltar para [melhorar] a educação, a saúde, o serviço público... Para tudo", afirmou.
ech/raa/app/lbc/jc/mvv