Bolsonaro ou Lula: as variáveis que podem definir a eleição
12:52 | Out. 29, 2022
Não apenas o carisma ou a estratégia dos candidatos definirão o próximo presidente do Brasil: no duelo final entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) outras variáveis podem influenciar.
O fator mais influente, na opinião de analistas consultados pela AFP, será o da rejeição. O Brasil está polarizado: antibolsonarismo e antipetismo.
Há quatro anos Bolsonaro venceu nas urnas aproveitando-se do desprezo e do medo despertado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que governou com Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).
Agora desperta emoções semelhantes em uma parte do eleitorado que rejeita sua gestão e pensamento ultraconservador.
"Agora o sistema político brasileiro está convivendo com duas forças que organizam o sistema político através da negação, que é o antipetismo e o antibolsonarismo. Acho que esses são os principais fatores que vão decidir a eleição", diz Mayra Goulart, especialista em política comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A primeira força se enraizou nas elites e depois se popularizou, transformando-se em um sentimento antiesquerdista com conotações econômicas e morais.
Enquanto isso, o antibolsonarismo é consequência, principalmente, do manejo da pandemia. Quase 690.000 pessoas morreram em meio ao desdém do presidente pelas vítimas e pelos que pediam vacinas.
"Em 2018 não tínhamos antibolsonarismo, mas um antipetismo e uma eleição contra tudo e todos (...) Bolsonaro encarnou esse personagem antissistema. Ganhou a eleição", comenta o sociólogo e cientista político Paulo Baía.
Mas nesta disputa a onda com menos resistência "vencerá a eleição", acrescenta.
No primeiro turno, cerca de 32 milhões de eleitores se abstiveram de votar, representando 21% do eleitorado. O número quintuplica a vantagem de seis milhões que Lula obteve sobre Bolsonaro no primeiro turno (48,4% contra 43,2%).
"A abstenção será fundamental", diz Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Quem mobilizar mais apoio entre aqueles que se abstiveram pode fazer a balança inclinar, embora isso não dependa exclusivamente das campanhas.
Muitos eleitores, especialmente os mais pobres, deixaram de votar porque não tinham meios de transporte para ir às seções eleitorais mais remotas.
E embora o voto seja obrigatório, a multa por não votar é de 3,5 reais, menos do que o custo da passagem.
"Quanto maior a abstenção, pior será para Lula, porque os que se abstiveram (...) são em sua maioria do PT", sustenta Stuenkel.
O Brasil começou a se recuperar da crise da pandemia. Entre junho e setembro, o desemprego caiu para 8,7%, e é esperado um crescimento do PIB de 2,8% este ano.
No entanto, 9,5 milhões de pessoas ainda estão desempregadas e a maior parte da população sofre com os altos preços que atingem muitos países. Nos últimos 12 meses, a inflação atingiu 7,17%, com tendência de queda.
Enquanto isso, outros 33,1 milhões passam fome, segundo a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Soberania e Segurança Alimentar.
"A economia, com a inflação, com carestia e com desemprego acelerado pela pandemia, contribuiu para o desalento de muitas famílias (...) E temos uma legião de crianças e jovens excluídos do processo social por falta de educação durante a pandemia", aponta Paulo Baía.
Lula se concentrou na geração de empregos, no combate à fome e no aumento salarial, embora nas últimas semanas Bolsonaro tenha reivindicado louros por sua política econômica de reativação.
Na opinião de especialistas, porém, a "questão-chave" para parte do eleitorado que apoia Bolsonaro não será a economia.
Mas questões ligadas ao conservadorismo social "família, tradição, cristianismo, etc", que eles acreditam que estariam em jogo se Lula vencer, explica o professor Stuenkel.
"Se o PT ganhar, isso demonstrará que a maior preocupação da população tem sido a economia; Se Bolsonaro ganhar, será um sinal de que (...) questões ligadas ao conservadorismo são vistas pela população como mais importantes", acrescenta.
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