'Mentira', 'mentira': duelo tenso entre Lula e Bolsonaro no debate da TV Globo

Candidatos se encontraram pela última vez antes do segundo turno das eleições, marcado para o próximo domingo, 30 de outubro

23:48 | Out. 28, 2022

Por: AFP
Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva durante debate da TV Globo (foto: MAURO PIMENTEL/AFP)

"Mentira. Pare de mentir, Lula, será que eu vou ter que exorcizar você para você deixar de mentir?". Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva trocavam acusações e tentavam conquistar os eleitores indecisos nesta sexta-feira, no último debate entre os dois candidatos antes do segundo turno das eleições presidenciais, no próximo domingo.

O presidente e o ex-presidente acusavam-se mutuamente em seu último embate televisivo, no qual ambos buscavam seduzir o eleitorado mais vulnerável.

Bolsonaro, que iniciou o debate negando que vá eliminar as férias e o pagamento de horas extras, prometeu que irá reajustar o salário mínimo para 1.400 reais se eleito no próximo domingo.

"Lula, você sabe que o sistema todo está contra mim. Para de mentir", disse o presidente, que se manteve falando fora de seu púlpito, vestia terno, gravata azul e revisava constantemente suas anotações.

Lula, que seguia Bolsonaro pelo palco a cada vez que o adversário tomava a palavra, atacou a gestão de seu rival: "Durante quatro anos, este homem governou e não deu 1% de salário mínimo", disparou.

O petista dirigia-se ao centro do palco a cada vez que falava, vestindo um paletó desabotoado, gravata vermelha e gesticulando constantemente, para reforçar sua mensagem.

Lula também acusou Bolsonaro de "isolar o Brasil do mundo" durante seu governo: "O Brasil hoje é mais isolado do que Cuba."

Evitar escorregões 

Lula, 77 anos e favorito nas pesquisas, e Bolsonaro, 67, foram para o último debate após um mês de uma campanha marcada por golpes baixos e desinformação na TV e nas redes sociais.

Na última pesquisa do Instituto Datafolha, publicada ontem, Lula recuperou uma vantagem de seis pontos ao somar 53% das intenções de voto contra 47% do atual presidente, considerando os votos válidos, exceto brancos e nulos. Na semana anterior, essa distância havia encolhido de seis para quatro pontos.

No primeiro turno, em 2 de outubro, Lula obteve 48% dos votos e Bolsonaro surpreendentes 43%, superando o que antecipavam as pesquisas.

Em um cenário de alta polarização, o debate é considerado fundamental. "A única coisa que pode mudar (a situação) nesse momento é o debate. Cinquenta e cinco por cento dos eleitores brasileiros dizem que o debate é muito importante na decisão deles, o debate da Globo geralmente por ser o último tem muita audiência e isso pode fazer a diferença. Qualquer escorregão, qualquer fala mal colocada acaba sendo muito determinante", disse à AFP o cientista político Felipe Nunes, diretor da consultoria Quaest.

No debate anterior, em 16 de outubro na TV Bandeirantes, a interação de Bolsonaro e Lula foi menos agressiva do que no primeiro turno, quando trocaram ataques diretos na presença de outros candidatos.

Bolsonaro demonstrou confiança após o resultado do primeiro turno, mas ao menos dois fatos da última semana podem ter complicado seu avanço: declarações de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre uma possível desvinculação do aumento do salário mínimo ao índice de inflação, e o polêmico comportamento do ex-deputado bolsonarista Roberto Jefferson, que respondeu a uma ordem de prisão com granadas e tiros que feriram dois policiais.

Sob pressão, Bolsonaro, que havia deixado de lado suas críticas ao sistema de voto eletrônico, levantou nesta semana um novo foco de suspeitas ao denunciar supostas irregularidades na divulgação de inserções de propaganda eleitoral em rádios do nordeste do país.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou as acusações por falta de indícios mínimos de provas e advertiu a campanha do presidente que a denúncia apresentada poderia constituir um "crime eleitoral" com a "finalidade de tumultuar o segundo turno" a poucos dias da eleição presidencial.

Analistas sustentam que Bolsonaro está preparando o terreno para questionar os resultados caso seja derrotado. Isto despertou temores de possíveis incidentes como a invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 2021, após a derrota de Donald Trump nas eleições americanas.