Compromissos climáticos atuais permitiriam aquecimento global de até 2,6°C, alerta ONU
As trajetórias estão muito acima das metas do Acordo de Paris para conter o aquecimento abaixo de 2°C, e se possível de 1
09:48 | Out. 27, 2022
Os atuais compromissos dos países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa deixam o mundo a caminho de um aquecimento global de até 2,6 graus Celsius até o fim do século, alertou a ONU nesta quinta-feira (27) em um novo relatório divulgado a poucos dias do início da COP27.
Mas os Estados não cumprem os compromissos anunciados e a atual trajetória pode gerar um aquecimento ainda maior, de 2,8°C, de acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
As trajetórias estão muito acima das metas do Acordo de Paris para conter o aquecimento abaixo de 2°C, e se possível de 1,5ºC.
Um dia após a Secretaria para Mudança Climática da ONU ter afirmado que os compromissos atuais estão muito distantes de responder às metas fixadas em Paris, o PNUMA considerou que a redução da emissões "lamentavelmente" não tem sido suficiente.
O relatório examina a diferença entre a poluição por CO2, de acordo com os planos dos países para descarbonizar suas economias, e o que a ciência considera ser necessário para conter o aquecimento entre 1,5ºC e 2ºC em comparação com a era pré-industrial.
O texto destaca que para alcançar a meta de 1,5°C seria necessário reduzir em 45% as emissões na comparação com os níveis atuais.
No ano passado, durante a COP26 de Glasgow, os países assinaram um "pacto" para estimular o reforço a cada ano das contribuições em nível nacional. Mas a resposta foi "lamentavelmente insuficiente", destaca o documento, segundo o qual apenas 24 países cumpriram o acordo.
"Nós caminhamos para uma catástrofe mundial", advertiu o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que criticou a falta de ações concretas para lutar contra a mudança climática.
"Os compromissos de neutralidade de carbono não valem nada sem planos, políticas e ações para apoiá-los", afirmou em um discurso exibido por vídeo.
"O mundo não pode mais se dar ao luxo de um 'greenwashing'" (uma lavagem de imagem verde), insistiu.
O relatório do PNUMA afirma que os últimos compromissos anunciados pelos países, denominados "contribuições determinadas em nível nacional" (NDC), reduzirão as emissões em 5% até 2030 em relação à trajetória atual para os acordos feitos sem condições e em 10% para aqueles efetuados com condições de financiamento ou ações externas.
Isto, em termos de aquecimento, implica que as contribuições sem condições "apresentam uma possibilidade de 66% de limitar o aquecimento a cerca de 2,6°C até o final do século".
Considerando os compromissos que apresentam condições, o resultado é um pouco melhor, mas provocaria um aumento de 2,4°C, que continua muito acima dos objetivos do Acordo de Paris.
Quando são considerados os compromissos de "neutralidade de carbono" que vários países anunciaram recentemente, o aumento pode ser contido a 1,8ºC.
"Mas esta perspectiva atualmente não é crível", destacaram os especialistas no relatório, que aponta "divergências" entre as promessas e os resultados.
Em 2020 as emissões globais caíram 7%, em linha com o nível estimado que pode manter o aquecimento global em 1,5°C, devido ao fato de a crise da covid paralisou grande parte da atividade mundial.
Mas o aumento em 2021 pode fazer deste ano um recorde em termos de emissões, destaca o PNUMA.
"Vemos uma recuperação completa nas emissões após a covid. É uma oportunidade perdida em termos de uso dos fundos de recuperação sem precedentes para acelerar uma transição verde", afirmou à AFP Anne Olhoff, principal autora do relatório.
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