Simone Tebet, a revelação da eleição presidencial que se uniu a Lula

13:18 | Out. 13, 2022

Por: AFP

"Não tenho medo de você!" Com voz firme e o dedo indicador apontando para Jair Bolsonaro, a senadora Simone Tebet saiu em defesa de uma jornalista que havia sido insultada pelo presidente durante o debate eleitoral.

Foi na noite de 29 de agosto, no primeiro enfrentamento de candidatos pela televisão, que muitos brasileiros conheceram Tebet: uma mulher branca de cabelos escuros, 52 anos, advogada e professora universitária, que surpreendeu em sua primeira campanha presidencial.

A senadora ficou em terceiro lugar no primeiro turno em 2 de outubro, com 4% dos votos, muito atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (48%) e Bolsonaro (43%). Com 4,9 milhões de votos, quando a diferença entre os dois adversários foi de 6,1 milhões, ela decidiu apoiar Lula.

A candidatura de Tebet foi erguida por partidos de centro e apoiada por uma parte do 'establishment' brasileiro, como uma tentativa de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro.

Tebet é natural de Três Lagoas, cidade de 125 mil habitantes da qual foi prefeita entre 2005 e 2010, no Mato Grosso do Sul, estado onde a economia gira em torno do agronegócio.

A senadora, mãe de duas mulheres e casada com um político sul-mato-grossense, teve papel de destaque na CPI que investigou a gestão da pandemia pelo governo em 2021, onde entrou em confronto com aliados de Bolsonaro.

Além disso, no Senado, foi a primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça, considerada a mais relevante. Mas o salto para uma maior projeção foi sua candidatura presidencial, empurrada como alternativa da "terceira via".

Ela "ocupou uma lacuna ao centro que estava vazia", disse à AFP Marco Antonio Teixeira, professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

Teve sucesso porque "se apresentou como uma terceira opção de fato, foi muito contundente nas críticas tanto a Bolsonaro quanto a Lula, de maneira equilibrada, sem procurar apenas confrontar", aponta Teixeira.

Nos debates, enfrentou Bolsonaro, de quem pediu respeito às mulheres, algo que lhe rendeu visibilidade e acabou ajudando-a a tomar o terceiro lugar do centro-esquerdista Ciro Gomes, ao contrário do que indicavam as pesquisas.

Até meados do mandato de Bolsonaro, Tebet apoiou seu governo em 86% dos votos que passaram pelo Senado, incluindo o projeto que ampliou o porte de armas em torno de propriedades rurais, segundo levantamento do site da Agência Pública.

O rompimento com o Executivo ocorreu quando Tebet, proprietária de três fazendas, uma delas em área reivindicada por um povo indígena que vive no Mato Grosso do Sul, integrou a comissão parlamentar sobre a pandemia, que deixou mais de 680 mil mortos no país.

No primeiro turno da campanha, a senadora prometeu transparência aos fundos bilionários administrados pelo Congresso, aumento de investimentos em ciência e tecnologia e programa de bolsas para jovens do ensino médio para enfrentar a evasão escolar.

Agora, enquanto analistas garantem que Lula deve se voltar para o centro e acenar para a direita para conquistar novos apoios, Tebet, é apresentada como uma carta valiosa.

Ela é católica e se diz feminista, mas já afirmou que o Brasil é conservador e não está pronto para discutir o aborto.

Na semana passada, ela formalizou seu apoio a Lula para a votação de 30 de outubro, negando que essa decisão signifique desistir da construção de uma nova via.

Seu partido, o Movimento Democrático Brasileiro, optou pela neutralidade. "O que está em jogo é muito maior do que cada um de nós", justificou.

A senadora disse que votará em Lula por seu "compromisso com a democracia e Constituição", algo que "desconhece" em Bolsonaro.

No entanto, criticou o ex-presidente de esquerda por "olhar apenas para o retrovisor" na campanha, em relação às conquistas de sua presidência (2003-2010), e não apresentar propostas.

"Ela tem um diálogo muito mais direto que Lula com as mulheres e com uma parte do agronegócio. Pode trazer votos de eleitores de centro", que querem fugir do clima de tensão causado pela polarização, diz o professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

A imprensa especula que ela pode ocupar um eventual Ministério de Lula caso vença a eleição. Tebet negou qualquer interesse.

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