Irã denuncia 'hipocrisia' de Joe Biden após anúncio de novas sanções
07:42 | Out. 04, 2022
O Irã denunciou nesta terça-feira (4) a "hipocrisia" do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que prometeu novas sanções contra Teerã após a repressão dos protestos no país.
Uma onda de protestos afeta o Irã desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que foi detida pela polícia da moral de Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta que obriga as mulheres a usar o véu.
Dezenas de pessoas, principalmente manifestantes, mas também policiais, morreram nos protestos, que as autoridades iranianas chamam de "distúrbios". E centenas foram detidas.
"Teria sido melhor se Joe Biden pensassem um pouco sobre o histórico de direitos humanos de seu país antes de falar sobre a situação humanitária (no Irã), embora a hipocrisia não exija uma reflexão profunda", afirmou no Instagram o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Nasser Kanani.
"O presidente americano deveria estar preocupado com as (consequências das) inúmeras sanções... contra a nação iraniana, que representam claramente um exemplo de crime contra a humanidade", disse.
Joe Biden anunciou na segunda-feira que Washington vai impor mais sanções ao Irã nesta semana em resposta à violenta repressão a "manifestantes pacíficos" no país.
"Os Estados Unidos estão com as mulheres iranianas e todos os cidadãos iranianos que inspiram o mundo com sua coragem", afirmou.
Biden não revelou indícios do tipo de medida que considera impor para punir Teerã.
O Irã já está sob sanções econômicas dos Estados Unidos devido em parte ao seu controverso programa nuclear.
Teerã insiste que este programa tem finalidades civis, mas a comunidade internacional suspeita que visa a construção de uma arma atômica.
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, já havia atacado Washington na segunda-feira, ao acusar Estados Unidos e Israel de fomentar o movimento de protestos, o maior no país desde o de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis.
"Digo claramente que esses distúrbios e a insegurança foram organizados pelos Estados Unidos e pelo falso regime sionista de ocupação, bem como seus agentes, com a ajuda de alguns iranianos traidores no exterior", declarou Khamenei, 83 anos, em seu primeiro comentário público sobre os protestos.
"Os Estados Unidos não podem tolerar um Irã forte e independente", enfatizou.
As organizações de defesa dos direitos humanos denunciam a repressão violenta, em particular contra os estudantes durante incidentes na madrugada de segunda-feira na Universidade Tecnológica Sharif de Teerã, a de maior prestígio no país.
A ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega, divulgou dois vídeos, incluindo um que mostra policiais em motos perseguindo estudantes em um estacionamento. A outra gravação mostra os agentes levando os detidos com as cabeças cobertas com sacos.
Em outro vídeo, tiros e gritos são ouvidos enquanto um grande número de pessoas corre pela rua à noite, imagens que a AFP não conseguiu verificar com fontes independentes.
A polícia antidistúrbios utilizou armas de paintball e gás lacrimogêneo contra os estudantes, que gritavam frases como "Mulher, vida, liberdade" e "Os estudantes preferem a morte à humilhação".
O Canadá adotou novas sanções contra autoridades iranianas. E o ministério das Relações Exteriores do Reino Unido convocou na segunda-feira o principal diplomata iraniano em Londres.
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