Wanda, a máquina que devora o lixo que contamina as águas do Panamá
Apesar de haver outras oito instalações similares em diferentes lugares do mundo, principalmente em Baltimore, nos Estados Unidos, a do Panamá é a mais moderna e a única na América Latina, segundo a Marea Verde
13:08 | Set. 27, 2022
Uma organização ambiental começou nesta terça-feira, 27, a movimentar a Wanda, uma gigantesca máquina hidráulica e solar que recolhe o lixo de um rio para evitar sua chegada ao mar, em uma região de manguezais e praias tomada por dejetos lançados da capital do Panamá.
Em uma área de floresta, em Santa Maria, nos arredores da Cidade do Panamá, é possível ouvir o som da imensa roda d'água coletando garrafas de plástico, retiradas do rio Juan Díaz.
Grupos ambientalistas estimam que 30% do lixo gerado na capital não é recolhido e que aproximadamente 100 mil toneladas de resíduos são lançadas no mar todos os anos no país.
"O objetivo principal da Wanda é demonstrar que, com tecnologia, podemos tentar mitigar a poluição de plásticos nos rios", disse à AFP Mirei Endara, ex-ministra do Meio Ambiente e presidente da associação Marea Verde, promotora do projeto.
No rio Juan Díaz, uma barreira artificial detém os objetos, que são levados pela corrente até Wanda, também conhecida como Wanda Díaz. Ali, o material reciclável é separado manualmente e colocado na esteira transportadora. Através da energia hidráulica, os objetos são jogados em um recipiente para reciclagem.
A instalação também conta com painéis solares, já que a força da corrente não é suficiente para movimentar a Wanda. Um sistema de câmeras obtém, mediante Inteligência Artificial, informações sobre o lixo já classificado.
"Tudo pode passar pela esteira. Sofás, geladeiras... A transportadora é lenta, mas muito forte", afirmou Rob Getman, responsável pela operação e manutenção da máquina, em conversa com a AFP.
Apesar de haver outras oito instalações similares em diferentes lugares do mundo, principalmente em Baltimore, nos Estados Unidos, a do Panamá é a mais moderna e a única na América Latina, segundo a Marea Verde.
"Sabemos que não é uma resposta definitiva, mas é uma medida paliativa, enquanto buscamos soluções mais concretas", explicou Endara.
O rio Juan Díaz é um dos mais poluídos da capital panamenha, apesar de fazer parte da Convenção de Ramsar sobre a proteção de zonas úmidas da Baía do Panamá.
A área tem uma vegetação quase impenetrável aos raios solares e alimento em abundância, além de ser um ponto vital de descanso para as aves em sua rota migratória. Mas a poluição e o crescimento urbano ameaçam o manguezal, por onde transitam anualmente até dois milhões de exemplares.
A Cidade do Panamá e seus arredores enfrentam uma crise na coleta de lixo, em um país onde a falta de reciclagem é evidente.
Muitas vezes, são as ONGs e as associações que organizam campanhas para limpar as praias.
"Há muitos problemas de saúde associados ao lixo que tiramos dos rios. Temos um problema pendente, e Wanda vai ajudar a criar mais consciência no Panamá", reconheceu o ministro panamenho do Meio Ambiente, Melciades Concepción.