Venezuela e Colômbia reabrem fronteira fechada desde 2015

Venezuela e Colômbia reabriram nesta segunda-feira (26) sua fronteira à travessia de veículos de carga após sete anos de fechamento parcial e três de fechamento total por divergências políticas, em uma cerimônia presidida pelo presidente colombiano, Gustavo Petro, e delegados do mandatário venezuelano, Nicolás Maduro.

Em declarações à imprensa, Petro qualificou o fechamento como "um suicídio que não deve voltar a se repetir".

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O primeiro caminhão decorado com uma bandeira venezuelana no capô e balões sobre a cabine cruzou da Venezuela para a Colômbia às 12h35 locais (13h25 de Brasília) e 17 minutos depois, outro, exibindo a bandeira colombiana, atravessou em sentido contrário a ponte internacional Simón Bolívar, situada entre as cidades venezuelana San Antonio del Táchira e a colombiana Cúcuta.

Altos funcionários comentaram a possibilidade de que o ato propiciasse uma primeira reunião entre Petro e Maduro, mas o presidente venezuelano não esteve presente e enviou funcionários de seu governo.

"Não há data" para esse encontro, disse Petro, ao ser questionado por jornalistas.

O presidente colombiano cruzou a fronteira para o lado venezuelano para cumprimentar os delegados do governo venezuelano, constatou AFP.

Os dois países deram um primeiro passo para tentar recuperar um intercâmbio comercial que chegou a ser de US$ 7,2 bilhões anuais em 2008 e despencou para US$ 400 milhões em 2021.

"Hoje, 26 de setembro (...), foram restabelecidas no estado de Zulia, no estado de Táchira e no estado de Apure as passagens fronteiriças, de pedestres e de carga", disse Ramón Velásquez Araguayán, ministro dos Transportes e presidente da companhia aérea estatal venezuelana Conviasa, durante uma coletiva de imprensa posterior ao ato.

A passagem de pedestres ficará aberta entre as 5h e as 18h, e a de carga, entre as 10h e as 17h, acrescentou Velásquez Araguayán, que integrou a delegação designada por Maduro.

"É um dia histórico para a Venezuela e a Colômbia", reforçou o funcionário, citando palavras do presidente Maduro.

"Estamos retomando relações e dando passos firmes para avançar na abertura total e absoluta da fronteira entre povos irmãos: Colômbia e Venezuela. É um dia histórico e transcendental!", tuitou mais cedo o presidente chavista.

Após a passagem dos primeiros veículos, outros cinco aguardavam a vez de cruzar a fronteira.

"O fechamento foi muito prejudicial (...) Vamos ver se de hoje em diante poderemos ver outra realidade", disse à AFP Jairo Sayago, um comerciante de 55 anos, em San Antonio, onde fica a ponte Simón Bolívar, que liga a cidade venezuelana à colombiana Cúcuta.

Caminhões voltarão a passar com carvão, café e alumínio para a Colômbia e alimentos processados e artigos de higiene para a Venezuela, entre outros, segundo informes antecipados pelas autoridades.

Veículos de carga vão cruzar pela ponte Francisco de Paula Santander, que liga a venezuelana Ureña a Cúcuta.

Lojas fechadas são o testemunho dos danos provocados pelo fechamento em cidades fronteiriças como San Antonio, onde o peso colombiano predomina, devido à desvalorização do bolívar venezuelano, em meio a uma inflação fora de controle.

Gasolina colombiana contrabandeada é vendida à margem das rodovias, embora a escassez de combustível nestas áreas, crônica por mais de uma década, tenha diminuído.

É normal, ainda, ver "caminhantes": migrantes que fazem a pé longas travessias, muitos dos quais têm como objetivo chegar aos Estados Unidos, tendo a Colômbia como primeira escala. Mais de seis milhões de venezuelanos moram hoje no exterior, segundo a ONU.

Venezuela e Colômbia também retomam nesta segunda os voos diretos.

Um voo da pequena companhia área venezuelana Turpial reinaugurará a rota Caracas-Bogotá. Inicialmente, a viagem seria feita por uma aeronave da estatal Conviasa, mas as sanções dos Estados Unidos contra a Venezuela forçaram a substituição, segundo as autoridades colombianas.

Venezuela e Colômbia retomaram as relações após a chegada do esquerdista Petro ao poder, com a promessa de "normalizar" a fronteira binacional de 2.200 km, afetada pelo contrabando e a presença de grupos armados.

Foram rompidas em 2019, quando o governo do então presidente Iván Duque reconheceu o dirigente opositor Juan Guaidó como "presidente encarregado" da Venezuela por questionamentos sobre a reeleição de Maduro, qualificada de "fraudulenta" por seus adversários.

As passagens fronteiriças para caminhões de carga estavam restritas desde 2015 e bloqueadas desde 2019, quando em meio a distúrbios violentos Guaidó liderou uma tentativa frustrada de levar cargas de alimentos e remédios enviadas pelos Estados Unidos. Ficaram habilitadas apenas como travessias para pedestres.

Outra ponte, a de Tienditas, ainda está bloqueada por gigantescos contêineres, instalados então por militares venezuelanos para impedir a passagem.

A privada Câmera Colombo-Venezuelana de Integração (CAVECOL) avalia que a reabertura poderia ajudar a levar as transações comerciais a US$ 1,2 bilhão em 2022.

A agenda bilateral é ampla. Petro e Maduro informaram em 13 de setembro que a Venezuela será a "avalizadora" das próximas negociações da Colômbia com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), em um processo que tentará emular o pacto de paz firmado em 2016 com as Farc.

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