Desinformar sobre a ONU, uma estratégia política para captar atenção

Políticos e grupos ultraconservadores em vários países desinformam sobre a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, distorcendo seu alcance e objetivos para "ganhar influência" e chamar a atenção do eleitorado - afirmam especialistas ouvidos pela AFP.

Assinada voluntariamente em 2015 por 193 países, esta iniciativa das Nações Unidas estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), entre os quais estão reduzir a pobreza e a fome no mundo, alcançar a igualdade de direitos e mitigar a mudança climática.

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Milhares de usuários de redes sociais ao redor do mundo ecoam, no entanto, mensagens que descrevem a iniciativa como uma "operação genocida" que busca destruir a autonomia dos Estados, "promover" o aborto, obrigar a população a se vacinar e instalar um governo único.

Líderes políticos também atacam a Agenda 2030.

Na Espanha, por exemplo, a rejeição da Agenda 2030 é uma parte importante do discurso do partido de extrema direita Vox, cujo site diz que a iniciativa "prega a abolição da soberania nacional e o confisco do patrimônio material e espiritual dos cidadãos".

Para Ian Hurd, diretor da Weinberg College Center for International and Area Studies da Northwestern University, nos Estados Unidos, a desinformação sobre os projetos das Nações Unidas não é nova.

"A ideia de que a ONU está acima dos Estados parece ser popular entre os funcionários de vários países que têm dificuldade de chamar a atenção para suas políticas e, em vez disso, sobrevivem com publicidade barata", disse ele à AFP.

A equipe de verificação de fatos da AFP constatou que a desinformação viral em torno da Agenda 2030 distorce seu conteúdo: a iniciativa não faz referência ao aborto; não busca "eliminar dissensos", nem prega "a abolição das soberanias".

Essas declarações partem, aliás, de um equívoco fundamental: o de que a ONU toma decisões e as impõe a seus Estados-membros.

"Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são compromissos dos governos para acabar com a fome, reduzir a poluição e melhorar a saúde, entre outros", afirmou Hurd, acrescentando que "a ONU não tem poder para aplicá-los, nem na lei, nem na prática".

A retórica "anti-Agenda 2030" ganhou força com a pandemia da covid-19, assim como outras teorias da conspiração sobre vacinas, ou sobre a tecnologia 5G. Essas narrativas "costumam visar a grupos considerados elites que têm o poder de controlar pessoas e eventos no mundo", disse à AFP Karen Douglas, professora de Psicologia Social da Universidade de Kent, no Reino Unido.

"A ONU certamente se encaixa nessa categoria", completou.

Segundo Karen, as teorias conspiratórias "parecem ser bastante utilizadas na política" como "ferramentas para influenciar as pessoas". Assim, permitem aos políticos "criarem uma imagem de si mesmos" que pode ser usada "para aparecer como alguém que é contra o sistema, ou como 'alguém do povo' que pode mudar o sistema".

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