Lula defende Estado laico e rejeita uso da Igreja como 'palanque político'
O presidente apela constantemente aos valores cristãos para fidelizar os evangélicos, parte importante de sua base eleitoral e grupo que representa um terço da população, cerca de 70 milhões de pessoasO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência da República, defendeu neste sábado, 20, o Estado laico e rejeitou o uso da Igreja como um "palanque político", em um evento de campanha em São Paulo, a 43 dias das eleições. "Tem gente que (...) está fazendo da Igreja um palanque político ou uma empresa para ganhar dinheiro", acusou, sob aplausos, em alusão tática a seu principal adversário, o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O presidente apela constantemente aos valores cristãos para fidelizar os evangélicos, parte importante de sua base eleitoral e grupo que representa um terço da população, cerca de 70 milhões de pessoas. "Eu, quando quero conversar com Deus, não preciso de padres ou de pastores. Eu posso me trancar no meu quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser e sem precisar de favores", acrescentou Lula.
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Ele criticou que as igrejas cuidem "da candidatura de falsos profetas ou de fariseus que estão enganando esse povo o dia inteiro". No ato foi estendida uma enorme bandeira o Brasil, um símbolo que a esquerda tenta "recuperar" das mãos da direita de Bolsonaro, que costuma usá-la como insígnia partidária.
"Eu tô em busca de esperança e eu acredito que Lula é a esperança, é a mudança", disse à AFP Marcos, um terapeuta de 52 anos, que não informou seu sobrenome e que participou do ato. Lula lidera as pesquisas de intenção de voto com vistas às eleições de 2 de outubro com 47%, à frente do presidente, com 32%, segundo a última pesquisa Datafolha.
A consulta, divulgada nesta quinta-feira, mostrou uma diminuição de 18 para 15 pontos percentuais a diferença entre os dois principais candidatos à Presidência com base na pesquisa anterior, publicada em 28 de julho. Bolsonaro, no entanto, é o favorito do eleitorado evangélico, com 49% das intenções de voto, à frente de Lula, que concentra 32%.
O presidente, que nomeou pastores como ministros de seu Gabinete e um inclusive um juiz "terrivelmente evangélico" ao Supremo Tribunal Federal, evoca constantemente este grupo, destacando, por exemplo, os valores da família e seu posicionamento contrário ao aborto, que Lula defendeu em discurso antes de se retratar.
O presidente chegou inclusive a dizer que, se vencer as eleições, Lula fecharia igrejas, o que foi imediatamente desmentido pelo ex-presidente.
Enquanto isso, Bolsonaro, também em campanha, participou na manhã deste sábado da tradicional entrega de espadins a cadetes graduados na Academia Militar de Agulhas Negras, em Resende, no Rio de Janeiro.