Relação entre vacinas anticovid e problemas cardíacos ainda gera dúvidas
O risco de sofrer problemas cardíacos após receber uma vacina anticovid baseada na tecnologia de RNA mensageiro é baixo, mas não é totalmente descartado, e alguns cientistas lamentam a falta de estudos conclusivos.
"Há mais um de um ano e meio estamos aplicando massivamente a vacina de RNA mensageiro e ainda não temos certeza absoluta" sobre seus riscos cardiovasculares, afirmam os pesquisadores americanos Jing Luo e Walid Gellad, em um editorial publicado no periódico British Medical Journal em meados de julho.
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Esse artigo de opinião se baseia em um amplo estudo divulgado pela mesma revista sobre a frequência de miocardite e de pericardite, dois tipos de inflamação cardíaca, em pacientes que receberam doses da vacina da Moderna, ou da Pfizer/BioNTech.
Os riscos foram detectados logo após as campanhas de vacinação em massa feitas em 2021. Os críticos dessas campanhas utilizaram esse argumento para se opor à imunização.
A frequência desses problemas cardíacos é, no entanto, rara e, considerando-se o tempo transcorrido, não parecem ter gerado complicações graves na maioria de casos. Além disso, a própria covid-19 gera riscos cardiovasculares.
Os editores da BMJ reconhecem, no entanto, que há razões para a insatisfação da comunidade científica em relação ao grau de conhecimento desses riscos.
"É verdade que as miocardites são raras depois da vacinação", concordam os especialistas. "Mas, até que ponto? A questão tem uma importância fundamental", completam.
O estudo que acompanha esse artigo foi feito com base nos resultados de cerca de 50 trabalhos de campo anteriores.
O risco de miocardite é incontestavelmente maior entre os homens jovens. E, aparentemente, ainda que as conclusões sejam menos evidentes, esse risco está mais relacionado à vacina da Moderna do que à da Pfizer/BioNTech.
Países como a França decidiram por um período destinar a vacina da Moderna aos maiores de 30 anos, enquanto em outros países, como Estados Unidos, não se fez esta distinção.
O estudo não esclarece todas as dúvidas, porque as metodologias de trabalho variam muito em função de cada análise. Além disso, alguns dados obtidos são insatisfatórios. Um exemplo é a vacinação de crianças, autorizada em muitos países, mas que nunca decolou, devido à reticência dos pais.
Ainda que as miocardites pareçam ser "muito raras entre crianças de 5 a 11 anos", os dados são incompletos, explicam os autores do artigo.
Na maioria dos casos, as miocardites e as pericardites foram sanadas sem maior gravidade, mas não houve um acompanhamento a longo prazo. Sendo assim, os pesquisadores desconhecem os riscos de sequelas.
Também não se sabe se os riscos voltam a aumentar após cada dose de reforço. Este dado é decisivo para o planejamento de campanhas de vacinação a longo prazo nos países mais avançados, onde a vacinação básica está praticamente concluída.
Uma equipe francesa publicou nesta sexta-feira um relatório, que ainda deve ser submetido à verificação independente, com dados da campanha de imunização pública neste país.
Os autores concluíram que o risco de miocardite aumenta efetivamente com uma dose de reforço do imunizante da Pfizer/BioNTech e da Moderna, mas com menor intensidade com a vacina inicial.
"Além disso, o risco diminui com o aumento dos prazos entre as doses", concluíram os autores do estudo, dirigido pelo epidemiologista Mahmoud Zureik para a Epi-Phare, uma agência de saúde pública francesa.