Exército do Sudão deixará governo nas mãos de civis após cinco deias de manifestações
"O exército não participará do diálogo" nacional organizado no Sudão, patrocinado pela ONU e pela União Africana (UA), anunciou nesta segunda-feira (4) o general golpista Abdel Fatah al-Burhan, para permitir que os civis formem um "governo de personalidades competentes".
O general fez o anúncio na televisão, enquanto centenas de sudaneses se manifestavam pelo quinto dia consecutivo em Cartum e nos subúrbios da capital para exigir que os militares abandonem o poder e denunciem a repressão, que já deixou 114 mortos.
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Também anunciou que "depois da formação de um governo que se ocupe dos assuntos, dissolveremos o Conselho Soberano e formaremos um Conselho Supremo das Forças Armadas", que também incluirá os paramilitares e que passará a estar encarregado apenas das questões de "defesa e segurança".
O Conselho Soberano, a máxima autoridade de transição no Sudão, foi formado em 2019 após a "revolução" que levou à destituição do ditador Omar al Bashir, que estava há trinta anos no poder.
Depois disso, foi formado um governo de transição que incluía civis e militares e que estava liderado pelo economista Abdalá Hamdok. No entanto, em 25 de outubro de 2021, o golpe liderado pelo general Burhan encerrou a frágil divisão de poderes.
Os civis foram afastados do Conselho Soberano e do governo e o poder ficou em mãos dos militares e de seus aliados paramilitares e ex-rebeldes armados.
Desde então, manifestações pró-democracia acontecem todas as semanas. O movimento perdeu força há alguns meses, mas parece ter recuperado força desde quinta-feira, após a morte de nove manifestantes. Pelo menos 114 pessoas morreram desde o golpe e centenas ficaram feridas na repressão dos protestos.
A repressão de quinta-feira, o dia de protestos mais mortal de 2022, desencadeou um movimento "espontâneo", afirmam vários manifestantes à AFP.
Desde sexta-feira, os manifestantes se organizaram em três protestos na capital Cartum e nos bairros de Omdurman (noroeste) e em Cartum Norte (nordeste), já que as forças de segurança bloqueavam as pontes que unem o centro com o resto dos bairros de periferia.
Nesta segunda-feira, um manifestante que não quis fornecer seu nome afirmou que os protestos durariam "até que o governo caia (...) mesmo que isso demore um mês, um ano ou dois".
Até agora, as Forças da Liberdade e Mudança (FLC), que lideraram a revolta que derrubou Omar al Bashir, e o partido Umma (o mais antigo do país), boicotaram o diálogo nacional.
"Não temos interlocutor", repetiam seus líderes, enquanto os manifestantes e os comitês de resistência afirmavam que não queriam discutir se a repressão não terminasse antes e os detidos fossem libertados.
A mensagem televisionada de Abdel Fatah ao Burhan nesta segunda-feira marca uma reviravolta nos acontecimentos.
A Forças da Liberdade e da Mudança (FLC) afirmaram à AFP que iriam se reunir nesta segunda após o anúncio de Burhan para decidir o caminho a seguir.
Enquanto isso, a reação da manifestação na rua permanece uma incógnita. Desde antes do golpe de outubro, os manifestantes entoa, o mesmo slogan, "Sem acordo, sem negociação" com os generais, a quem acusam de trair os civis.