Macron sofre revés em eleições legislativas na França
16:36 | Jun. 19, 2022
A aliança de centro do presidente francês, Emmanuel Macron, se encaminha a perder, neste domingo (19), a maioria absoluta no Parlamento, diante do avanço da frente de esquerda e, sobretudo, da ascensão espetacular da extrema direita nas eleições legislativas.
A coalizão Juntos! , de Macron, obteria entre 200 e 260 cadeiras, seguida da Nova União Popular, Ecológica e Social (Nupes, esquerda), com entre 150 e 200, e do Agrupamento Nacional (extrema direita), de 60 a 100, segundo projeções. A maioria absoluta é de 289 assentos.
"Se estes resultados se confirmarem, estarão muito longe do que esperávamos (...) Está em gestação uma situação inédita na vida política e parlamentar, que nos exigirá superar nossas certezas, nossas divisões", disse o ministro de Contas Públicas, Gabriel Attal.
Embora a negociação seja comum na maior parte das democracias, a ausência de uma maioria absoluta no Parlamento pode virar uma dor de cabeça para o partido no poder para levar adiante seu programa de orientação liberal.
Para alcançar os 289 assentos, o partido Os Republicanos (direita) e seus aliados, UDI (45 a 80 assentos), poderiam se tornar chaves para o presidente de centro. Seus líderes anteciparam nos últimos dias que farão uma "oposição útil".
A esquerda apresentou as legislativas como um "terceiro turno" das presidenciais, ao considerar que os franceses reelegeram Macron em 24 de abril para impedir a chegada ao poder de sua adversária da extrema direita Marine Le Pen, e não por suas ideias.
Mesmo que o presidente perca a maioria absoluta, a primeira frente de esquerda em 25 anos - esquerda radical, ecologistas, comunistas e socialistas - está longe do objetivo de vencer e impor Mélenchon como primeiro-ministro.
A deputada Clémentine Autin saudou, no entanto, em declarações à televisão France 2, um "avanço incrível" e uma "validação da estratégia realizada por Jean-Luc Mélenchon, uma reunião de forças de transformação social e ecológica".
O partido ultradireitista de Le Pen, embora fique com a terceira posição, seria um dos principais vencedores das eleições, ao poder formar um grupo parlamentar próprio pela primeira vez desde 1986, ganhando peso.
"É uma onda azul marinho em todo o país. A lição desta noite é que o povo francês tornou Emmanuel Macron um presidente minoritário", comemorou em declarações à televisão TF1 Jordan Bardella, seu líder interino, qualificando-o de "tsunami".
A participação era chave no segundo turno, mas de acordo com as projeções novamente mais da metade dos 48,7 milhões de franceses convocados às urnas não foram votar.
Este pleito encerra um ciclo de votações crucial para o rumo da França nos próximos cinco anos. O próximo compromisso eleitoral serão as eleições ao Parlamento Europeu em 2024, dois anos nos quais os partidos poderão consolidar a recomposição em curso.
A ascensão do centrista Macron em 2017 sacudiu o tabuleiro político francês, que agora se divide em três blocos principais - esquerda radical, centro e extrema direita -, deixando de lado os partidos tradicionais de governo.
Após o revés nas presidenciais, o Partido Socialista (PS) decidiu se unir à frente liderada por Mélenchon, apesar do descontentamento de seus ex-líderes e Os Republicanos, enfraquecidos, esperam ser chave para tecer maiorias com Macron.
Na reta final da campanha, a aliança de Macron advertiu para o caos que representaria ter que governar com maioria simples e, sobretudo, para o "perigo" que representaria a chegada da frente de esquerdas ao poder.
Em seu retorno a uma viagem à Ucrânia, Macron defendeu uma "França realmente europeia", após acusar seus adversários da Nupes de querer abandonar a União Europeia (UE) - o que eles negam -, e reivindicou uma "maioria sólida".
Os franceses deviam votar no candidato de sua circunscrição - 577 no total -, em um sistema uninominal em dois turnos. No primeiro turno, um deputado do Juntos! e quatro da Nupes já conquistaram assentos.
Para os membros do governo francês que optam por um assento, entre eles a primeira-ministra, Élisabeth Borne, as eleições representam um desafio duplo porque deverão deixar o poder se perderem, segundo uma regra tácita.
Este é o caso da secretária de Estado para o Mar, Justine Benin, que foi derrotada na Ilha de Guadalupe, assim como a ministra da Saúde, Brigitte Bourguignon, no norte da França, informou seu comitê à AFP.
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