Indígenas do Equador pedem liberação de líder preso por vandalismo em protestos
18:25 | Jun. 14, 2022
A prisão do líder indígena Leonidas Iza por supostos atos de vandalismo atiçou nesta terça-feira (14) o segundo dia consecutivo de protestos no Equador, onde várias estradas foram fechadas em protesto contra o governo.
Iza, presidente da poderosa e opositora Confederação das Nacionalidades Indígenas (Conaie), foi preso na madrugada desta terça-feira em meio a disputas com policiais e militares, como mostra um vídeo divulgado pela organização, que entre 1997 e 2005 participou de revoltas que derrubaram três presidentes.
O presidente conservador Guillermo Lasso denunciou, através de um vídeo postado no Twitter, que na véspera aconteceram "atos de vandalismo", como invasões de produtores agrícolas e o ataque a uma instalação de bombeamento de petróleo na floresta amazônica.
Este último fato foi negado por vários ministros da área de segurança na noite de ontem.
A Conaie, que em 2019 liderou mais de uma semana de manifestações violentas contra o governo que deixaram onze mortos, exige a redução dos preços dos combustíveis e a renegociação das dívidas dos camponeses com os bancos.
Os indígenas também protestam contra a falta de emprego e a entrega de concessões de mineração em seus territórios, e exigem o controle de preços dos produtos agrícolas.
Iza aguarda uma audiência de julgamento em Latacunga (sul), jurisdição na qual foi preso. Ele deve ser transferido para Quito.
Em um vídeo divulgado pelo Ministério do Interior, o líder indígena aparece de pé, usando um chapéu vermelho e poncho, enquanto um policial lhe diz que foi preso por "sabotagem", crime que pode ser punido com até dez anos de prisão.
A prisão foi feita "de maneira violenta", disse Lenin Sarzosa, advogado do líder do povo kichwa-panzaleo, a repórteres.
Segundo as autoridades, outros quatro manifestantes também foram detidos em Quito.
Na aldeia de San Miguel del Comun, um foco dos protestos no norte de Quito, Yolanda Guamán pediu que os policiais que estão posicionados na estrada libertem os detidos.
"Pedimos que soltem nosso companheiro (Iza) e também os quatro companheiros que foram levados (...) à força" de San Miguel del Comun, disse Guamán à AFP.
Ao lado dela, um grupo de manifestantes ateou fogo a uma camiseta da campanha eleitoral de Lasso.
As manifestações, convocadas pela Conaie, são mantidas em pelo menos onze das 24 províncias equatorianas, incluindo os acessos a Quito, segundo o estatal Serviço Integrado de Segurança ECU911. A polícia não relatou confrontos.
No sul da capital, galhos e pneus envoltos em chamas impediram a passagem de veículos.
O ministro do Interior, Patricio Carrillo, afirmou em coletiva de imprensa que a "estratégia" dos manifestantes é "paralisar, saquear, sequestrar, atacar", de tal forma que "a desordem, o caos, o vandalismo seja o que gere agitação social diante de um governo que tenta para gerar oportunidades para os equatorianos".
Quatro policiais de Quito e um promotor da província de Cotopaxi (cuja capital é Latacunga) foram temporariamente detidos por manifestantes, segundo as autoridades.
A ONG de direitos humanos Inredh considerou que a prisão de Iza, um engenheiro ambiental de 39 anos, "provocará maior indignação e uma onda de violência".
"Aqueles que cometem atos de vandalismo responderão à justiça", enfatizou Lasso.
As autoridades estimaram que cerca de 6.000 pessoas participaram dos protestos nacionais de segunda-feira. Por sua parte, Iza sustentou que o Executivo está "minimizando" as manifestações e alertou que elas continuarão de maneira "indefinida".
A Conaie, que já participou de vários diálogos malsucedidos com o governo de Lasso, propõe que os preços dos combustíveis sejam reduzidos para 1,50 dólar o galão de 3,78 litros de diesel e 2,10 para a gasolina de 85 octanas.
Entre maio de 2020 e outubro de 2021, os preços foram revisados mensalmente, de modo que o diesel quase dobrou (de 1 para 1,90 dólar) e a gasolina subiu 46% (de US$ 1,75 para US$ 2,55).
Em outubro passado, Lasso - um ex-banqueiro de direita que chegou ao poder há um ano - fixou aumentos antes de congelá-los, atiçando o descontentamento dos povos originários, que são ao menos um milhão dos 17,7 milhões de equatorianos.
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