Quem é Francia Márquez, a primeira vice-presidente negra da Colômbia

Márquez, de 40 anos, escolheu concorrer ao cargo "porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz"

Pela primeira vez na história da Colômbia uma mulher negra será a vice-presidente do país. Francia Márquez, uma ativista ambiental do Departamento de Cauca, no sudoeste da Colômbia, tornou-se um fenômeno nacional, mobilizando as bases eleitorais da esquerda e cavando espaço na chapa de Gustavo Petro.

Márquez, de 40 anos, escolheu concorrer ao cargo "porque nossos governos deram as costas ao povo, à justiça e à paz". Ela cresceu dormindo no chão de terra batida em uma região castigada pela violência relacionada ao longo conflito interno do país. Engravidou aos 16 anos, foi trabalhar nas minas de ouro locais. Em 2019, sobreviveu a um ataque com granadas e tiros de fuzil. Queriam matá-la por sua defesa diante do avanço da mineração ilegal.

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Críticos a consideram "divisiva", alguém que tem dificuldade para forjar alianças. Ela também nunca ocupou um cargo político. Para Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis, "há muitas dúvidas sobre se Francia seria capaz de ela gerenciar a política econômica, ou política externa, de forma a dar continuidade ao país". 

Francia Márquez apelou à "reconciliação" após o segundo turno deste domingo, 19. "O grande desafio que todos os colombianos temos é a reconciliação (...) Em meio às diferenças, podemos construir uma nação que olha para frente, uma nação próspera", disse, em entrevista à Rádio Caracol.

Ela chefiará, ao lado de Petro, o primeiro governo de esquerda da História de um país governado até agora por elites liberais e conservadoras.

A dupla derrotou com 50,5% dos votos a chapa do empreiteiro milionário e outsider Rodolfo Hernández e Marelen Castillo - também de origem afro -, que obteve 47,3%.

Dez por cento da população colombiana se identifica como afro-descendente.

"Esperamos juntos construir um país de paz, um país com dignidade, um país com oportunidades, com justiça", disse a ativista a seus adversários, que chegaram à campanha relativamente como desconhecidos e derrotaram os partidos tradicionais no primeiro turno.

Na reta final, a campanha se tornou suja, com vazamentos e golpes baixo de ambos os lados.

Agora, Petro e Márquez vão comandar um país polarizado e com reservas frente às ambiciosas transformações que propõem à esquerda, entre elas cessar a exploração de petróleo diante da crise climática e aumentar os impostos dos riscos para fortalecer o Estado.

"Que a diferença não seja uma razão para que continuar violentando-nos, para continuar assassinando-nos", disse Márquez, que em 2019 foi alvo de um atentado com rajadas de fuzil em seu departamento natal do Cauca, onde grupos armados disputam as rédeas do narcotráfico e do garimpo ilegal, apesar do desarmamento da guerrilha das Farc, em 2017.

"Chegou o momento de construir a paz, uma paz que implica justiça social", disse Márquez.

"Eu me vejo governando este país dos locais mais esquecidos (...) Das periferias", antecipou, acrescentando que Petro a encarregou de liderar um novo "ministério da igualdade", que cuidará dos direitos das mulheres, da juventude, dos povos étnicos e da população LGBTIQ+.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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