Não há indícios de envolvimento do crime organizado nas mortes de Dom e Bruno, diz PF
Organizações criminosas que atuam na Amazônia não estão relacionadas com as mortes do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, disse nesta sexta-feira (17) a Polícia Federal, versão esta que foi rebatida por uma associação indígena.
"As investigações [...] apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito", indicou a Polícia Federal em comunicado.
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"As investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa", acrescentou a PF na nota.
Um dos suspeitos, um pescador de 41 anos chamado Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como 'Pelado', confessou na terça-feira ter enterrado os corpos. No dia seguinte, ele levou as autoridades ao lugar exato.
Ali, a polícia encontrou restos humanos que foram levados em um avião para Brasília na quinta-feira, onde estão sendo analisados. Segundo a polícia, há uma "probabilidade de 99%" de que os remanescentes pertençam aos dois homens desaparecidos.
Dom Phillips, de 57 anos, e Bruno Pereira, de 41, um renomado especialista em povos indígenas isolados, estavam na Amazônia como parte da preparação de um livro sobre a conservação do meio ambiente.
Os dois foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando se dirigiam em um barco para Atalaia do Norte, no Vale de Javari, uma região conhecida por sua periculosidade e onde há atividades ilícitas, como tráfico de drogas, pesca e garimpo ilegais.
A União de Povos Indígenas de Vale de Javari (Univaja), cujos membros participaram ativamente das buscas, refutou nesta sexta-feira a versão policial.
"Não se trata apenas de dois executores, mas sim de um grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime", disse a Univaja em nota, explicando que as autoridades haviam feito pouco caso de diversas denúncias da organização sobre as atividades do crime organizado na região.
Em abril, a organização enviou um relatório às autoridades no qual explicava que 'Pelado' estava envolvido em atividades de pesca ilegal e já havia sido apontado como responsável por ataques com armas de fogo em 2018 e 2019 contra uma base da Funai (Fundação Nacional do Índio).
A Univaja menciona "uma poderosa organização criminosa que tentou à todo custo ocultar seus rastros durante a investigação" do duplo assassinato, lembrando que Bruno Pereira, que era servidor licenciado da Funai, já tinha sido alvo de "ameaças de morte".
Diversos especialistas acreditam que a pesca ilegal de espécies ameaçadas no Vale do Javari está, na maioria dos casos, sob o controle dos narcotraficantes, que utilizam a venda de pescado para lavar o dinheiro da droga.