Milhares de indígenas e estudantes se mobilizam em Quito em protesto contra o governo
Milhares de indígenas e estudantes equatorianos intensificaram nesta quarta-feira os protestos contra o governo do presidente Guillermo Lasso, de quem exigem uma redução nos preços dos combustíveis no país petroleiro.
As caravanas aconteceram após a breve prisão do líder indígena Leonidas Iza, acusado de paralisar o transporte público bloqueando estradas.
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Os protestos aconteceram sem incidentes em Quito, mas os confrontos se repetiram em outras províncias e já deixaram desde segunda-feira mais de 10 feridos, incluindo civis e militares, e levaram à prisão de 20 pessoas.
Com bloqueios de estradas, os indígenas equatorianos iniciaram na última segunda-feira protestos por tempo indeterminado, para exigir a redução dos preços dos combustíveis e a renegociação de dívidas dos camponeses com os bancos.
As manifestações foram convocadas pela opositora Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), organização presidida atualmente por Iza e que, entre 1997 e 2005, participou de revoltas que derrubaram três governantes.
"Estamos indignados com este governo neoliberal", disse à AFP o indígena Hugo Toaquiza. "Disseram que iriam eliminar a pobreza e estão apenas nos matando de fome."
Um uniformizado que estava no local estimou que ao menos 2 mil pessoas participavam da caravana, que pretendia avançar até o centro histórico, onde fica a sede do Executivo, mas que se concentrou no sul. No entanto, cerca de 3 mil estudantes, professores e trabalhadores, segundo um agente metropolitano, marcharam pelo centro colonial, observou a AFP.
A passeata avançou até quatro quadras de distância da sede presidencial, onde os manifestantes foram dispersados pela polícia com gás lacrimogêneo.
Em 2019, Quito foi por mais de uma semana palco de protestos violentos liderados pelo movimento indígena, com a Conaie à frente, que deixaram 11 mortos. As manifestações obrigaram o então presidente, Lenín Moreno, a desistir de seu plano de eliminar subsídios milionários aos combustíveis.
Iza, preso ontem e libertado 24 horas depois, ratificou hoje que as manifestações continuarão "por tempo indeterminado". "Precisamos de respostas", disse o líder, acusado de paralisação de serviços públicos, que deve se apresentar em julho à Justiça para ser processado.
Após essa declaração, comunidades indígenas também se concentraram na andina Latacunga, o que resultou em confrontos com a polícia.
- Oferta de diálogo -
A princípio, autoridades estimaram que 9.300 pessoas participaram nesta quarta-feira dos bloqueios de estradas em 14 das 24 províncias na manhã desta quarta-feira. Mas segundo Carrillo, esse número caiu para cerca de 5.500".
Iza está proibido de deixar o país e deve comparecer ao Ministério Público duas vezes por semana até 4 de julho, quando terá início seu julgamento. A Conaie considerou a prisão de seu titular "violenta, arbitrária e ilegal", enquanto o governo defende que a medida está de acordo com a legislação.
Além de Iza, outras 20 pessoas foram detidas, segundo Carrillo. Dez militares ficaram feridos ao evitarem que, "mediante atos de violência", manifestantes tomassem uma estação petroleira na Amazônia, segundo fontes oficiais. O líder do protesto indicou, no entanto, que houve 32 detidos e 14 civis feridos no total.
Iza lidera as manifestações contra o governo do presidente conservador Guillermo Lasso, nas quais os indígenas exigem a redução do preço dos combustíveis e a renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais com os bancos.
A Conaie, que entre 1997 e 2005 participou em protestos que derrubaram três presidentes, também protesta contra a falta de empregos e a concessão de licenças de mineração em territórios indígenas, além de exigir um controle de preços dos produtos agrícolas.
Carrillo comemorou a decisão do tribunal de processar Iza pela suposta paralisação do serviço de transporte público com o bloqueio de rodovias.
"A administração da justiça declarou que a detenção do senhor Iza é legal, em primeiro lugar. Em segundo lugar, abriu uma investigação fiscal" contra o líder, disse.
Iza foi preso na terça-feira em meio a brigas com policiais e militares. "Muita força, não vamos ficar desmoralizados", disse ele, segundo uma transmissão feita pelo Facebook pela Conaie.
O líder foi recebido por alguns apoiadores com abraços. "Viva a luta" e "Viva a greve", gritavam os manifestantes. Uma indígena se aproximou de Iza e fez uma "limpeza", que consiste em passar plantas consideradas medicinais sobre o corpo.
Lasso e Iza protagonizaram negociações infrutíferas no ano passado. O presidente reiterou hoje no Twitter que seu governo tem "as portas abertas para o diálogo", mas alertou: "Não cederemos diante de grupos violentos que pretendem impor suas regras."
Os protestos começam a afetar a economia, incluindo a produção de petróleo, em consequência dos bloqueios, sabotagens e atos de vandalismo.
Os primeiros dois dias de manifestações deixaram cerca de 20 milhões de dólares em prejuízos econômicos, segundo o Comitê Empresarial Equatoriano.
A população indígena, que representa um milhão dos 17,7 milhões de habitantes do Equador, propõe que o preço do combustível seja reduzido para 1,50 dólares por galão de 3,78 litros de diesel e 2,10 para gasolina de 85 octanas.
O valor do diesel quase dobrou (de 1 para 1,90 dólares) e a gasolina subiu 46% (de 1,75 para 2,55) entre maio de 2020 e outubro de 2021.
"As agendas de protesto dos diferentes grupos sociais são legítimas, mas não podem se concretizar com base em enganos e na violência", escreveu o presidente.
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