O que se sabe sobre o desaparecimento de jornalista e indigenista na Amazônia
As buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Pereira, desaparecidos em uma região remota da Amazônia, entram em seu décimo dia nesta terça-feira (14) em meio a dúvidas e uma crescente pressão internacional para resolver o caso.
Phillips, 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos. Apaixonado pela Amazônia, sobre a qual escreveu dezenas de reportagens, o jornalista estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre conservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação americana Alicia Patterson.
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Pereira, de 41 anos, especialista da Funai e reconhecido defensor dos direitos indígenas, o acompanhava como guia, em sua segunda viagem à região desde 2018.
Ele foi coordenador regional da Funai de Atalaia do Norte, município para onde ia com Phillips quando eles desapareceram. Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendia ameaças frequentes de grupos criminosos que atuam na região.
Ambos são casados e Pereira é pai de três filhos.
Phillips e Pereira foram vistos pela última vez na manhã de domingo, 5 de junho, na comunidade de São Gabriel, não muito longe de seu destino, Atalaia do Norte, onde navegavam pelo Rio Itaquai.
Eles estavam viajando em um barco novo, com combustível suficiente para chegar ao seu destino. A jornada havia começado dias antes no Lago Jaburu, onde entrevistaram moradores.
O jornalista e o especialista desapareceram no Vale do Javari, uma densa área de selva amazônica onde vivem 26 povos indígenas, muitos deles isolados.
As autoridades alertaram para a "complexidade" do meio ambiente devido à presença de garimpeiros, madeireiros e pescadores ilegais que invadem terras protegidas para explorar seus recursos.
Além disso, o tráfico de drogas teve uma presença crescente nos últimos anos, utilizando a região como um importante corredor para o transporte de drogas produzidas no Peru e na Colômbia, países que fazem fronteira com o Brasil.
As buscas são realizadas por grupos indígenas e pelas forças de segurança. Policiais encontraram pertences pessoais de ambos no domingo: uma mochila, roupas, sapatos e o cartão de saúde de Pereira.
Segundo os bombeiros, os objetos foram encontrados submersos perto da casa de Amarildo da Costa Oliveira, o único detido até agora no âmbito do caso. O pescador de 41 anos foi visto por testemunhas em uma lancha seguindo o barco em que Phillips e Pereira viajavam em alta velocidade, antes de desaparecer.
A polícia encontrou um rastro de sangue em um barco do detido, que nega estar envolvido.
Sangue e material "aparentemente humano" encontrado na área de busca estão sendo analisados. Os resultados são esperados esta semana.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na segunda-feira que "foram encontradas vísceras humanas boiando no rio", o que "leva a crer que fizeram alguma maldade" a Phillips e Pereira. Não se sabe se o presidente estava se referindo ao material relatado pela polícia.
A busca pelos dois desaparecidos continua, assim como por sua embarcação.
Uma grande confusão surgiu na segunda-feira depois que familiares do jornalista foram informados por um diplomata brasileiro em Londres da descoberta de dois corpos que aguardavam identificação.
A Polícia Federal, porta-voz oficial das investigações, negou essa informação. Os indígenas que participaram da busca também negaram a descoberta de dois corpos.
O governo federal tem recebido críticas de ativistas, organizações internacionais e da justiça brasileira pela suposta lentidão e falta de coordenação nas buscas.
Bolsonaro havia dito inicialmente que Phillips e Pereira haviam embarcado em uma aventura não recomendada por circular sem escolta por uma área perigosa, despertando a ira de organizações civis que saíram em defesa do trabalho de ambos pela preservação do Amazonas.
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