Rússia isolada lembra 'Pedro, o Grande', arquiteto da abertura à Europa
A Rússia recorda nesta quinta-feira (9) os 350 anos do nascimento do czar Pedro, o Grande, que ajudou a aproximar o império da Europa, imagem que contrasta com o atual momento de ruptura entre a Rússia e o Ocidente, devido ao conflito na Ucrânia.
Por ocasião do 350º aniversário do nascimento de Pedro I, que governou primeiro como czar e depois como imperador de 1682 até sua morte em 1725, o presidente Vladimir Putin visitará uma exposição em Moscou dedicada a ele.
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De acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, Putin "aprecia muito seu papel [de Pedro, o Grande] na história de nosso país".
Depois de uma viagem à Europa que o conscientizou do atraso da Rússia, Pedro I modernizou o império em marcha forçada, reformou o exército, o Estado e a Igreja, criou uma Marinha e iniciou uma verdadeira revolução cultural, cujo legado perdura na Rússia até hoje.
Ele também construiu São Petersburgo, a capital imperial, que considerava uma "janela aberta para a Europa". Nesta cidade, a segunda maior da Rússia, a maioria das comemorações acontecerá nesta quinta-feira, com shows e palestras públicas.
A figura de Pedro, o Grande, também está associada à de um conquistador que expandiu as fronteiras da Rússia e à de um monarca forte que não permitiu nenhum tipo de oposição.
"Pedro I pode ser uma figura emblemática tanto para os defensores do liberalismo de estilo europeu quanto para os defensores de um Estado forte", disse o historiador Daniil Kotsubinski à AFP.
Durante as comemorações desta quinta-feira, "o atual governo vai enfatizar seu papel de homem forte do Estado", diz.
Em nota na quarta-feira, Putin falou de uma "figura militar excepcional" e um "patriota" cujas "transformações em larga escala ajudaram a reforçar o prestígio internacional da Rússia e determinaram seu desenvolvimento nos séculos seguintes".
O contexto atual não se presta a celebrar a reaproximação do imperador com a Europa, em um contexto em que a Rússia parece isolada do Velho Continente e está sujeita a sanções ocidentais por sua intervenção na Ucrânia lançada em 24 de fevereiro.
Nesse contexto de fortes tensões entre Moscou e a Europa, muitos russos se perguntam se Putin quer "fechar a janela" que Pedro, o Grande, abriu há três séculos.
As redes sociais russas estão cheias de memes sobre o assunto há dias, ilustrando as dúvidas de uma parte da população sobre o futuro das relações com o Ocidente. "Pedro I abriu a janela da Europa, Putin vai fechar", afirma um deles. Outra montagem mostra o imperador dizendo: "Feche a janela para a Europa, a vista é terrível". Nesse contexto, Peskov, porta-voz de Putin, garantiu na semana passada que "ninguém pretende fechar nada".
Para o historiador Boris Kipnis, "quaisquer que sejam as circunstâncias históricas, se abandonarmos o eixo traçado por Pedro I, podemos arruinar o país e o povo". Segundo ele, não há dúvidas: "A Rússia é um país europeu".
Apesar das tensões contínuas entre Moscou e países europeus, Svetlana Stepanova, moradora de São Petersburgo de 47 anos que participará das festividades desta quinta-feira, vê Vladimir Putin como um herdeiro do imperador. "Pedro I fez da Rússia uma grande potência, Putin também quer ver uma grande Rússia", afirmou. "Isso é o essencial".