Quem são o jornalista e o indigenista desaparecidos na Amazônia
11:27 | Jun. 08, 2022
O Brasil permanece apreensivo com o desaparecimento na Amazônia do jornalista britânico Dom Phillips, correspondente no país, e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, de quem não se tem notícias desde o domingo.
Phillips, de 57 anos, é colaborador do jornal britânico The Guardian e trabalha no Brasil há 15 anos. Morou em São Paulo, Rio de Janeiro e há alguns anos se mudou para Salvador com a esposa, a brasileira Alessandra Sampaio.
Apaixonado pela Amazônia, onde escreveu dezenas de reportagens, o jornalista britânico estava na região há vários dias trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local, com apoio da fundação Alicia Patterson.
Em sua trajetória como repórter no Brasil, escreveu, entre outros temas, sobre o avanço do garimpo ilegal e a agropecuária em áreas protegidas no Brasil, como colaborador para veículos como os jornais The New York Times, Washington Post e Financial Times.
"Linda Amazônia", escreveu em 30 de maio no Instagram em uma das últimas publicações que compartilhou, juntamente com um vídeo navegando por um rio em uma pequena embarcação.
Antes de chegar ao Brasil, em 2007, Phillips escrevia sobre música no Reino Unido. Foi editor da revista Mixmag e publicou um livro sobre a cultura dos DJs.
Foi atraído por esse universo musical que chegou a São Paulo, onde acabou morando. "Sentiu-se em casa no Brasil", diz uma carta aberta assinada por outros correspondentes estrangeiros, amigos de Phillips.
À margem de sua profissão, engajou-se como voluntário em projetos sociais em comunidades do Rio de Janeiro e Salvador.
"Seus amigos o conhecem como um cara sorridente, que acorda antes do amanhecer para fazer stand-up paddle", acrescenta a nota dos colegas, que asseguram que Phillips está aguardando "ansiosamente" os trâmites "para poder adotar uma criança com sua esposa".
Bruno Pereira, de 41 anos, é um especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e um conhecido defensor dos direitos indígenas.
Foi coordenador regional da Funai em Atalaia do Norte, município aonde viajava com Phillips quando desapareceram.
Além disso, coordenou a unidade de Indígenas Isolados e Recém Contatados da Funai, onde esteve a cargo de uma das maiores expedições dos últimos tempos para contatar grupos isolados e evitar conflitos entre etnias.
Atualmente, estava de licença, dedicando-se junto a ONGs a projetos para melhorar a vigilância nas aldeias do Vale do Javari, um território indígena remoto na fronteira com o Peru, ameaçado pela pressão de narcotraficantes, pescadores, madeireiros e garimpeiros ilegais.
Seu trabalho em defesa dos povos indígenas lhe rendeu ameaças regulares destes grupos criminosos.
Quando desapareceram, Pereira acompanhava o jornalista britânico como guia por esta região isolada da Amazônia, na segunda viagem da dupla por esta região isolada desde 2018.
O indigenista é casado e pai de três filhos. "Cada vez que entra na floresta, ele traz esta paixão com o objetivo de ajudar o próximo", afirmou a família em um comunicado.
É "corajoso e dedicado. Foi afastado da Funai basicamente porque estava fazendo o que este organismo deveria fazer e não faz desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder: defender os povos indígenas", disse à AFP Fiona Watson, diretora de Pesquisas da ONG Survival International.
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