Sobe para 25 número de mortos em operação policial na Vila Cruzeiro
18:41 | Mai. 25, 2022
O número de mortos na operação policial desta terça-feira contra o narcotráfico na Vila Cruzeiro, comunidade da zona norte do Rio de Janeiro, subiu para 25, enquanto seus responsáveis foram parabenizados pelo presidente Jair Bolsonaro por terem "neutralizado" suspeitos.
A Secretaria de Saúde da prefeitura do Rio confirmou na tarde desta quarta-feira (25) a morte de um menor em uma Unidade de Pronto Atendimento, sem dar detalhes, em consequência da operação na favela.
Em um tuíte publicado na noite de ontem, Bolsonaro parabenizou os "guerreiros" do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Militar (PM) do Estado do Rio de Janeiro, que "neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto, após serem atacados a tiros durante operação contra líderes de facção criminosa".
O presidente acrescentou que lamentava "a vítima inocente", Gabrielle Ferreira da Cunha, 41, moradora da comunidade, morta por uma bala perdida em sua casa, vizinha à comunidade, e criticou "parte da mídia" que, supostamente, "isenta o bandido de qualquer responsabilidade".
Gabrielle foi sepultada hoje, na presença de amigos e familiares. Aos gritos de "Minha filha!", sua mãe chorava, inconsolável, com a mão na frente do corpo no caixão.
Forças de ordem entraram ontem na favela para capturar líderes do "Comando Vermelho" escondidos na comunidade, segundo a Polícia Militar do Rio. A incursão policial, que durou 12 horas, provocou intensos tiroteios e levou ao fechamento de escolas e outros serviços públicos.
Com pelo menos 25 mortos, entre os quais pelo menos 23 suspeitos, a operação se tornou a segunda mais letal da história do Rio, um ano depois da mais sangrenta, com 28 mortos, na comunidade do Jacarezinho, também na zona norte.
Segundo autoridades sanitárias, duas pessoas feridas durante a operação morreram na madrugada de hoje no hospital Getúlio Vargas. Quatro pacientes continuavam internados, um deles em estado grave.
A polícia apreendeu mais de uma tonelada de entorpecentes, como cocaína, maconha, crack e outras drogas, informou a força. Também foram apreendidos 13 fuzis, 20 granadas, cinco pistolas e munições. Nenhum suspeito foi preso.
"Para se ter ideia do grau de violência dos bandidos, parte dos alvos da operação foram responsáveis pelo assassinato de 13 agentes de segurança pública somente em 2022 (...). 'Especialistas' omitem essas informações com o intuito de demonizar aqueles que arriscam suas vidas por nós", defendeu Bolsonaro.
O Ministério Público Federal anunciou ontem a abertura de uma investigação sobre a conduta e eventuais violações por parte de agentes policias que participaram da operação.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, manifestou hoje "muita preocupação" com o "índice tão alto de letalidade" provocado pela operação.
Em fevereiro, a máxima corte havia dado um prazo de três meses ao estado do Rio para apresentar um plano para reduzir a letalidade policial. O projeto foi apresentado no fim de março, mas organizações de defesa dos direitos humanos o consideraram muito vago.
Associações de moradores e ONGs têm denunciado com frequência supostas execuções sumárias durante esse tipo de operação, que, quase sempre, ficam impunes.
Em 2021, 1.356 pessoas morreram nas mãos das forças policiais do estado do Rio - as que mais matam e morrem em confrontos no Brasil -, de acordo com o projeto Monitor da Violência.
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