Cientistas alertaram para risco global da varíola dos macacos em 2018

Potencial de disseminação e falta de vigilância confiável elevaram o nível de preocupação com a zoonose emergente em 2018, segundo cintistas dos Estados Unidos

21:50 | Mai. 27, 2022

Por: Marília Serpa
VARÍOLA dos macacos tem letalidade menor em comparação à varíola humana (foto: AFP PHOTO/RKI/Andrea Maennel/Andrea Schnartendorff)

Em 2018, um estudo condizido por cientistas ligados aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) alertou sobre o "ressurgimento da varíola dos macacos na Nigéria", afirmando ser "uma preocupação global de segurança sanitária". Também foi feito o alerta sobre a doença em humanos ter sido notificada em mais países "na última década do que nos 40 anos anteriores". Nas últimas semanas de maio, diversos países pelo estão registrando casos da doença.

O aumento aparente de casos de varíola dos macacos humana em uma ampla área geográfica, o potencial de disseminação e a falta de vigilância confiável elevaram o nível de preocupação com a zoonose emergente, explicaram os pesquisadores. Na época, a Nigéria estava enfrentando o maior surto documentado de varíola humana na África Ocidental.

"Durante a última década, mais casos humanos de varíola foram relatados em países que não relataram a doença em várias décadas", escreveram os pesquisadores. O estudo também aponta que, desde 2016, 19 casos foram notificados na República Centro-Africana, mais de mil por ano na República Democrática do Congo e dois casos na Libéria.

Além disso, mais de 80 casos foram registrados na Nigéria desde o mesmo período, 88 na República do Congo e um em Serra Leão. Os pesquisadores também lembraram que em 2017 a Organização Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com o CDC, organizou uma consulta informal sobre a varíola com pesquisadores, parceiros globais de saúde, ministérios da saúde e especialistas em ortopoxvírus.

O objetivo da consulta foi de revisar e discutir a varíola de macacos humana em países africanos "onde os casos tinham sido detectados e também identificar componentes de vigilância e resposta que precisam ser melhorados". A falta de experiência de muitos países com varíola endêmica e a falta de conhecimento sobre a doença são fatores agraventes, segundo os pesquisadores.

"Melhorias específicas na capacidade de vigilância, diagnóstico laboratorial e medidas de controle de infecção são necessários para lançar uma resposta eficiente (...) Além disso, as lacunas no conhecimento sobre a epidemiologia e a ecologia do vírus precisam ser abordadas para projetar, recomendar e implementar as medidas de prevenção e controle necessárias", esceveram no estudo.

Surto da varíola dos macacos

Atualmente, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Estados Unidos e Canadá estão entre os países com casos suspeitos ou já identificados.

Outros dois novos casos da doença, sendo um em Londres e outros na Inglaterra, foram detectados pela Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA, na sigla em inglês). Assim, o número total na região subiu para nove desde que o alerta de surto foi feito.

Outros cinco casos também foram confirmados em Portugal e mais de 20 estão sendo analisados na Espanha. Nos Estados Unidos, um caso foi confirmado no Estado de Massachusetts em um homem que recentemente viajou ao Canadá, não havendo confirmação de ligação com o surto de varíola dos macacos na Europa.

Doença emergente

A varíola dos macacos foi identificada, em 2018, como uma doença emergente que "demanda avaliação rápida das possíveis contramedidas disponíveis" na lista de doenças prioritárias daquele ano para o Projeto de Pesquisa e Desenvolvimento da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por essa razão, os cientistas afirmaram no estudo que "vacinas e terapias médicas desenvolvidas para a varíola podem ser validadas para uso contra a varíola humana em estudos clínicos por meio de pesquisa operacional em países com doenças endêmicas para otimizar seu impacto potencial".

Atualmente, não há tratamento específico para a infecção causada pela doença. A vacinação, no entanto,  oferece proteção cruzada contra outros vírus, incluindo a varíola dos macacos. A imunização contra a varíola foi erradicada na década de 1980.

"Após a erradicação da varíola em 1980 e a cessação da vacinação contra a varíola no início da década de 1980, a diminuição da imunidade da população induzida pela vacina e a falta de proteção entre as faixas etárias mais jovens podem ter contribuído para o ressurgimento da doença", afirmaram os cientistas.

Transmissão sexual

A possibilidade de transmissão sexual da varíola dos macacos foi levantada em 2019 por David Heymann, professor de epidemiologia de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, na Inglaterra. O apontamento foi feito porque algumas pessoas com a doença tiveram lesões nos órgãos genitais ou na região genital.

Não existem evidências de que a doença é transmitida pelo ato sexual propriamente dito, sendo passado pelo sêmen ou pelos fluidos vaginais. No entanto, o contato pele a pele durante o sexo pode levar à transmissão no caso de um dos parceiros estar com lesões de varíola, explicou o professor David.

Com informações do G1