Ucrânia se esforça para conter o avanço russo no leste do país
09:16 | Mai. 11, 2022
No meio de um campo verde, na frente leste da Ucrânia, um projétil de uma bomba de fragmentação está preso no chão. Perto do local, uma equipe de médicos ucranianos corre para atender um soldado ensanguentado.
Um dos médicos tenta tranquilizar o militar, assegurando que o torniquete acima do joelho não significa que perderá a perna. Outro murmura, olhando para a fumaça no céu, na batalha por Donbass, onde o ataque russo, lento mas metódico, parece irremediável.
Vários soldados formam um círculo de proteção ao redor dos socorristas.
Eles chegam em ondas", declara Mykola, um voluntário, ao comentar as tentativas reiteradas das tropas russas de avançar em direção ao sul, além do rio Donets, perto da localidade de Bilogorivka.
"Tentaram durante o fim de semana e provocamos o recuo deles. Agora estão tentando de novo. Vão e voltam. Primeiro eles atacam, depois nós os atacamos", comenta.
Nem Moscou nem Kiev são signatários de uma convenção de 2008 que proíbe o uso de bombas e mísseis de fragmentação, que abrem no ar e liberam milhares de pequenos explosivos com capacidade para atingir zonas mais amplas.
Em Bilogorivka, o projétil do míssil ficou preso perto do último posto de controle que leva à localidade. A queda da cidade ajudaria o exército russo a iniciar o ataque a Kramatorsk, a capital administrativa do leste da Ucrânia sob controle de Kiev.
A Ucrânia enviou reforços para manter a linha de frente, no que parece um esforço desesperado de resistência. Alguns quilômetros mais ao leste, as cidades de Lyssytchansk e Severodonetsk estão cercadas e podem cair a qualquer momento.
É praticamente impossível verificar o que acontece em Bilogorivka, cidade bombardeada constantemente.
No fim de semana, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que 60 pessoas morreram no bombardeio de uma escola onde 90 moradores estavam refugiados. Os soldados na região não conseguiram confirmar as informações porque o centro de ensino fica na zona norte, sob controle russo.
"Entramos e foi assim que saímos", disse um combatente que usa o nome de guerra Leto ("Verão"), perto de uma van com várias marcas de tiros.
"Estamos nos preparando para voltar", acrescenta. "O que podemos fazer? Uma ordem é uma ordem. Mas não temos cobertura. Não temos armas de artilharia. Não sei como nossa unidade vai lutar".
O moral elevado e o grande apoio do país ao exército permitiram à Ucrânia defender Kiev em fevereiro e março, e depois bloquear o avanço da Rússia no Donbass.
Porém, o tempo e a superioridade militar da Rússia dificultam a manutenção da situação.
É difícil avaliar o número de soldados dos dois países que morreram no conflito, mas segundo os médicos que atendem o militar ferido em Bilogorivka os dados são muito mais elevados que os de 2014, quando a Ucrânia travou um conflito contra os separatistas pró-Rússia, apoiados pelo Kremlin.
"Em geral, se você olhar para as estatísticas, é um pouco assustador", disse o médico voluntário Yuriy Kozhumyaka.
"Você tem que estar preparado para isto. Mas é uma vergonha", completa o professor de Arte de 37 anos que virou médico durante a guerra.
Outro paramédico voluntário, Andriy Kukhar, também expressa resignação
"Muitos morrem", disse o dentista de 38 anos. "Não podemos fazer nada para ajudar muitos caras e eles morrem. Mas isto é guerra. Sabemos disso", conclui.
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