Onda de calor em Índia e Paquistão, o prenúncio de um futuro ainda pior

16:27 | Mai. 06, 2022

Por: AFP

O calor sufocante que assola Índia e Paquistão há cerca de dois meses é inédito, mas o futuro será muito pior, afirmam cientistas, que explicam a maior frequência das temporadas de altas temperaturas pela mudança climática.

Mais de um bilhão de habitantes do sudeste asiático sofreram, em março e abril, com temperaturas extremas, acima de 40°C, antes do início do período das monções. E isso ainda não terminou.

"Esta onda de calor poderia matar milhares de pessoas", alerta Robert Rohde, cientista do grupo Berkeley Earth. O número de mortos, especialmente entre a população pobre e de mais idade, só será conhecido mais tarde.

A mortalidade relacionada com o calor na Índia, que já sofreu com ondas mortíferas em 2015 e 2019, aumentou em mais de 60% desde 1980, segundo o Ministério de Ciências da Terra indiano.

Além disso, outros "impactos" já estão sendo vistos na agricultura, na água, no fornecimento de energia, destacou, nesta semana, o titular da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o finlandês Petteri Taalas.

Isso sem contar que a qualidade do ar é cada vez pior, que os riscos de incêndios aumentam e os cortes de eletricidade.

"Esta região do mundo, e a maioria das zonas tropicais, estão entre as mais vulneráveis diante das ondas de calor", declarou à AFP Camilo Mora, pesquisador da Universidade do Havaí.

Em um estudo de referência publicado em 2017, Mora e sua equipe estimaram que aproximadamente metade da população mundial estaria exposta a um "calor mortal" por pelo menos 20 dias ao ano até 2100. E isso aconteceria mesmo se o aumento das temperaturas globais não superar os 2°C em relação à era pré-industrial, a meta principal dos Acordos de Paris sobre o clima.

Os cientistas estão realizando cálculos para avaliar em que medida o aquecimento global é responsável pela onda de calor que afeta o sudeste asiático.

"Não há dúvida de que a mudança climática modifica as regras do jogo em matéria de ondas de calor", disse à AFP a especialista Friederike Otto, do Imperial College de Londres.

"O que estamos vendo agora será normal, até mesmo frio, em um mundo entre dois e três graus mais quente", acrescentou.

Até agora, a temperatura do planeta aumentou em média 1,1°C e, se todos os compromissos dos signatários do acordo de Paris forem cumpridos, a temperatura subiria 2,8°C, segundo especialistas climáticos do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) da ONU.

Na Índia e no Paquistão, o IPCC prevê "ondas de calor mais intensas, mais longas e mais frequentes".

O calor extremo é ainda mais perigoso quando combinado com a umidade, um fenômeno medido pelo "termômetro molhado" ou TW, que leva em conta a capacidade do corpo para reduzir sua temperatura por meio da transpiração.

Considerando que um corpo apenas recebe calor quando a temperatura exterior TW supera a sua, um ser humano jovem e saudável, na sombra e com água disponível, não sobreviveria por mais de seis horas a uma temperatura de 35 graus TW.

Durante a onda de calor de 2015, que deixou mais de 4.000 mortos em Índia e Paquistão, o "termômetro molhado" alcançou 30 graus TW.

Este ano, a situação é ainda pior, com o recorde de 32,2 graus TW registrados na semana passada em Nagpur, no centro da Índia, assinalou Thibault Laconde, chefe de uma empresa emergente especializada na adaptação ao aquecimento global.

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