NFT comprado por R$ 13 milhões em 2021 mal chega a R$ 50 mil atualmente
Tecnologia de arte digital que angariou defensores no ramo de criptomoedas tem desvalorização notável após animação inicial passar; críticas a NFT incluem especulação e danos ambientais
08:57 | Abr. 15, 2022
Após ter comprado o NFT da primeira publicação no Twitter, um empresário está tendo dificuldades em revendê-lo por uma fração de seu preço há um ano. A transação original, em março de 2021, foi de US$ 2,9 milhões (cerca de R$ 13,6 milhões), e o melhor valor oferecido atualmente pela obra é de US$ 10 mil (aproximadamente R$ 47 mil).
A expectativa do atual "dono" da publicação era receber cerca de US$ 49 milhões. Passada a animação inicial, porém, o mercado de NFTs teve imensa desvalorização nos últimos meses.
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A postagem foi leiloada por Jack Dorsey, cofundador do Twitter, em dezembro de 2020. À época, NFTs eram considerados por entusiastas a próxima "grande onda" da tecnologia, como o metaverso.
"Decidi vender este NFT (o primeiro tweet) e doar 50% dos lucros para a instituição de caridade GiveDirectly", publicou em 6 de abril Sina Estavi, CEO da plataforma blockchain Bridge Oracle, e atual dono do NFT.
Dadas as ofertas até agora medíocres na plataforma de vendas OpenSea, ele lembrou que o leilão de um ano atrás também começou com ofertas de apenas centenas ou milhares de dólares, e tuitou na quinta-feira uma captura de tela das ofertas de dezembro de 2020, "quando @Jack (Dorsey ) criou esta NFT."
"Talvez Elon o compre", tuitou Matt Navarra, analista de mídia social, referindo-se à oferta do proprietário da Tesla, Elon Musk, de comprar o Twitter. "Seria uma pena se o dono do Twitter não fosse o dono do primeiro tweet :)", respondeu Estavi.
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NFTs são "recibos" de arquivos digitais
"NFTs", ou tokens não fungíveis, são formatos digitais que permitem que qualquer objeto virtual, seja uma imagem, foto, animação, vídeo ou música, seja associado a um certificado de autenticidade registrado no blockchain, tecnologia de rede que serve como base para criptomoedas como bitcoin.
O mercado de NFT explodiu em 2021. A compra da imagem autenticada da mensagem "Apenas configurando meu twttr" ("just setting up my twttr") por Jack Dorsey, por cerca de 3 milhões de dólares, deu o que falar.
Uma obra digital do artista americano Beeple, intitulada "Everydays: The First 5000 Days", chegou a ter o NFT vendido por 69,3 milhões de dólares na casa de leilões Christie's. Mas o entusiasmo parece ter diminuído este ano. Os observadores da indústria estão divididos entre apoiadores e céticos.
"Cara, você não possui o primeiro tweet. Você tem um certificado no blockchain que diz que você tem uma captura de tela do primeiro tweet", disse um usuário no Twitter em resposta à mensagem de Sina Estavi. A provocação é uma das críticas ao formato, mas não a única.
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O argumento é que NFTs não são o arquivo digital em si, mas um registro, na blockchain, de que aquele arquivo foi vendido para uma pessoa. Em alguns casos, como itens em jogos virtuais, a prática pode impedir a cópia. Para a maioria dos arquivos, porém, nada impede que sejam copiados e compartilhados livremente.
Deste modo, um NFT é apenas um "recibo" de que determinada pessoa ou grupo é, supostamente, "dona" de um arquivo digital. Isso não significa, no entanto, que ela possa controlar a forma como ele é utilizado.
Outro problema diz respeito à especulação. Defensores da ideia dizem que NFTs seriam uma forma de remunerar, de forma justa, artistas digitais por seu trabalho - inclusive com a possibilidade de receberem, para sempre, um percentual da venda cada vez que a obra trocar de mãos.
No entanto, o que tem acontecido é apenas especulação: investidores compram NFTs e esperam sua valorização, para em seguida se desfazer dos ativos. Grupos mal intencionados chegam a usar estratégias como contratar celebridades para promover tokens, vendendo grandes quantidades quando o "hype" chega ao ponto máximo. Quem adquire os NFTs no preço alto, com objetivo de revendê-los, fica no prejuízo.
Para além disso, a tecnologia blockchain envolve a confirmação simultânea, por inúmeros computadores, que compõem a rede, de que a transação aconteceu. O processo é criticado por ser extremamente ineficiente, do ponto de vista energético, e danoso ao meio ambiente, visto que muitos países com "fazendas" de blockchains, compostas por milhares de máquinas, usam eletricidade gerada por combustíveis fósseis.
Com material da AFP