Deslocados pela guerra, jovens ucranianos se unem para abrir café

08:32 | Abr. 13, 2022

Por: AFP

Utilizando uma máquina de café emprestada, o barista ucraniano Ivan Demchenko, de 19 anos, serve cafés e cortados através de uma janela, onde os clientes fazem fila.

Seis dias depois que ele e dois amigos começaram a vender café de uma janela na cidade de Lviv, a fama do lugar se propagou e começaram ficar sem suas tortas de frango e de abacaxi.

Alguns clientes publicaram nas redes sociais que os jovens empreendedores do destruído entorno de Kiev abriram o negócio e muitos queriam ajudá-los.

Entre os pedidos, Demchenko narrou como ele e seu amigo Serhii Stoian, de 31 anos, fugiram de Kiev no início da invasão russa em 24 de fevereiro.

Depois de semanas como voluntário em Lviv para ajudar outros deslocados, ele e Stoian ficaram sem dinheiro e decidiram buscar emprego.

"Encontrei apenas um emprego", recordou Demchenko, estudante de ciências políticas. Pagava o equivalente a 15 dólares por uma jornada de 12 horas.

Stoian, um empreendedor digital e YouTuber, teve outra ideia.

Antes da guerra, os dois trabalharam em um café de Bucha, um preparava o café e o outro fazia as tortas.

Stoian sonhava em vender suas tortas em sua cidade de Irpin, mas não tinha recursos e tinha medo de ter prejuízo.

"Mas agora não temos nada a perder", comentou.

Sem dinheiro para pagar aluguel e com apenas o suficiente para comprar os ingredientes, abriram o café Kiit, nomeado assim por causa do gato que Stoian deixou para trás.

"O povo de Lviv ajuda muito. Nos deram quase tudo aqui", comentou apontando para um microondas e para caixas doadas de leite de aveia.

Sua amiga Daryna Mazur, de 21 anos, estudante de matemática, chegou depois de um breve exílio na Polônia e agora os ajuda.

"Eu ia ser programadora, mas estou aqui assando tortas".

Segundo a ONU, a invasão russa à Ucrânia deslocou mais de 10 milhões de pessoas dentro e para fora do país.

Muitos partiram com pouco mais que uma ou duas mochilas, abandonaram suas casas, seus pertences, seus animais de estimação e seus empregos.

Milhares foram mortos no conflito e povoados inteiros foram devastados, incluindo aqueles onde viviam Stoian e Demchenko.

Esse último disse que teve sorte de escapar antes da ocupação russa de sua cidade, Borodyanka.

Seus pais e sua irmã de 12 anos conseguiram sair vivos uma semana depois dele.

Seu apartamento foi destruído, disse. Da casa de sua família, ninguém sabe como ficou depois do ataque.

Stoian disse que voltou para Irpin, onde encontrou seu apartamento sem janelas e com sinais de que alguém havia mexido lá dentro.

Kiit, seu querido gato, não apareceu por lugar algum.

Pelo contrário, se surpreendeu ao encontrar um vizinho vestindo um dos seus casacos. Não sabe como ele o encontrou.

No movimentado centro de Lviv, porém, os clientes chegam ao balcão e olham o cardápio ao lado de um jarro de narcisos.

Olga Milkhasieva veio fazer um pedido com seu esposo Rostislav e seu filho Maksym, de cinco meses.

"Apenas queremos apoiar esses meninos porque sabemos o que se passa", expressou a jovem mãe, também refugiada de Kiev.

Elina, bancária de 31 anos de Lviv, que não revelou seu sobrenome, disse que aquela era a primeira vez que ia ao centro da cidade desde o início da guerra.

"É muito difícil tomar café como se nada importasse", admitiu com uma xícara saindo fumaça em suas mãos.

Ela disse que chora todos os dias quando lê as notícias nas redes sociais.

"Porém, entendemos que a vida continua e temos que apoiar os negócios e a economia", sustentou.

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