Autoridades do México são acusadas de ocultar informações sobre desaparecimento de estudantes em 2014
Uma comissão de especialistas independentes acusou nesta segunda-feira autoridades mexicanas de terem ocultado informações-chave sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014.
"Infelizmente, não pudemos estabelecer o destino das vítimas. Isso se deve à destruição de provas, ao obstáculo, ocultação e construção de uma mentira a partir das esferas mais altas", disse Francisco Cox, membro do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), que investiga o caso.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
O GIEI garantiu que esses órgãos, que não identificou, resistem a entregar informações necessárias para o avanço das investigações, incluindo dados de inteligência. Em seu julgamento, há uma "simulação" por parte de algumas autoridades para levar a crer que cumprem a ordem do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, de facilitar as consultas, quando, na realidade, não o fazem.
O GIEI foi criado em novembro de 2014 por um acordo entre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Estado mexicano, para esclarecer o desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa, no estado de Guerrero.
Os 43 jovens desapareceram entre a noite de 26 e a manhã de 27 de setembro de 2014, em Iguala, cidade também em Guerrero, em um dos piores casos de violação dos direitos humanos no México, que gerou ampla condenação internacional. Até o momento, só foram identificados os restos mortais de três vítimas, por especialistas do Instituto de Medicina Legal da Universidade de Innsbruck, na Áustria.
Segundo Claudia Paz, que integra o GIEI, membros do Exército estavam seguindo os movimentos dos alunos dois dias antes do seu desaparecimento. "Naquele momento, as autoridades tinham informações quase minuto a minuto do que estava ocorrendo", disse.
Claudia afirmou ainda que, na noite do dia 26, autoridades locais e nacionais sabiam "o que estava acontecendo no momento da detenção e após o desaparecimento dos estudantes", ainda que essa informação não tenha sido entregue às investigações.
No dia do ocorrido, dezenas de normalistas se dirigiam a Iguala para pegar ônibus que pretendiam usar em manifestações. De acordo com a chamada "verdade histórica" do governo do então presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), os jovens foram detidos e entregues por policiais locais a narcotraficantes do cartel Guerreros Unidos, ao serem confundidos com integrantes de uma gangue inimiga.
Após serem baleados, seus restos foram incinerados e colocados no lixo, segundo essa tese, rechaçada por familiares das vítimas, o GIEI e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Ángela Buitrago, também membro do GIEI, que apresentou o terceiro relatório de trabalho do grupo, mencionou a alteração de uma lixeira onde foram encontrados restos humanos, entre os quais os de três alunos. "A cena foi alterada", afirmou, apontando que, antes das diligências judiciais, o lugar sofreu a interferência "de atores que não tinham a competência nem o grau" de investigadores.
- Testemunhas assassinadas -
Além da ocultação de informações, Francisco Cox ressaltou que as ações dos próprios criminosos também impedem "saber o destino final" dos estudantes. Pelo menos "22 pessoas relacionadas que poderiam ter informações morreram, apenas duas de causas naturais.
Jhosivani Guerrero da Cruz, Christian Alfonso Rodríguez Telumbre e Alexander Mora Venancio foram os únicos alunos identificados até agora pelo Instituto de Medicina Legal da Universidade de Innsbruck.
yug/axm/ag/ic/am/lb