Femicídios e violência de gênero, um flagelo crescente no Curdistão iraquiano
13:25 | Mar. 20, 2022
Uma mulher queimada viva pelo marido, outras mortas a tiros pelo pai ou pelo irmão... no Curdistão iraquiano, autoridades locais e ONGs alertam para o aumento dos feminicídios e, em geral, da violência de gênero.
Nesta região autônoma do norte do Iraque que pretende passar uma imagem de estabilidade e tolerância, "nos últimos dois meses houve um aumento dos feminicídios em relação ao ano passado", disse Hiwa Karim Jwamir, porta-voz do Departamento de Combate à Violência contra as Mulheres do governo de Suleimaniya.
Entre janeiro e fevereiro, 11 mulheres foram mortas, a maioria baleadas, acrescentou a porta-voz. Em todo o ano de 2021, o número de vítimas na região foi de 45, contra 25 no ano anterior, acrescentou.
Na sexta-feira, na cidade de Soran, um pai matou sua filha de 15 anos, que recebeu "seis balas". O homem disse à polícia que a adolescente estava "fora com dois rapazes tarde da noite", segundo uma unidade de violência doméstica.
O assassinato de umtransexual pelas mãos de seu irmão em fevereiro provocou uma onda de ódio nas redes sociais... contra a vítima.
Há anos, ativistas denunciam casamentos forçados em uma sociedade altamente conservadora e patriarcal.
No resto do país, as mulheres também sofrem com a violência: em dezembro, uma jovem de 16 anos ficou desfigurada pelo ácido jogado por um homem com quem ela se recusou a casar.
"A maioria das mulheres assassinadas são vítimas de um membro de sua família", confirma Bahar Munzir, diretor da ONG local People's Development.
Quem denuncia esses eventos também sofre: no início de março, o corpo de Maria Sami, uma jovem de 20 anos conhecida por seus discursos feministas, foi encontrado sem vida em uma vala em Erbil, capital do Curdistão. A polícia prendeu seu irmão, que afirmou que sua irmã não obedecia à família.
Em fevereiro, Shinyar Huner Rafik, mãe de dois filhos, morreu no hospital.
"O marido dela chegou em casa bêbado, cobriu o corpo dela com gasolina e ateou fogo", disse à AFP o pai da vítima, Huner Rafik. O marido foi preso.
O primeiro-ministro do Curdistão, Masrur Barzani, chamou o caso de "horrível". "O governo deve impor a punição mais severa possível aos autores" desses crimes, insistiu.
"Esses chamados crimes de honra não têm nada a ver com honra."
Hana Shwan, da Organização de Desenvolvimento Civil, responsabiliza a impunidade por esse aumento da violência contra as mulheres.
Em 2011, o Curdistão aprovou uma lei que criminaliza a circuncisão feminina e a violência doméstica e prevê prisão perpétua por crimes de honra, mas sua aplicação continua irregular.
"Há falhas na aplicação da lei e ausência de processos judiciais contra os acusados", diz Hana.
Entre 2020 e 2021, em todo o Iraque, os casos de violência de gênero aumentaram 125%, ultrapassando 22.000 casos, segundo a Unicef.
A agência da ONU para crianças também relatou um "aumento preocupante da depressão e suicídio entre mulheres e meninas, especialmente deslocadas e refugiadas".
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