A guerra de Putin e o futebol
O mundo futebolístico reage à invasão russa na Ucrânia. Técnicos, clubes e jogadores criticam a agressão, Fifa e Uefa excluem clubes russos de competições. Schalke rescinde contrato com Gazprom, comenta Gerd Wenzel.Jürgen Klopp, o aclamado técnico do Liverpool não apenas por sua reconhecida competência como técnico, mas também por se manifestar claramente sobre questões sociais e políticas sem meias-palavras, não deixou dúvidas do que pensa sobre a guerra que Putin move contra a Ucrânia. Logo depois da vitória do Liverpool sobre o Chelsea na final da Copa da Liga Inglesa, disparou: "Conheço muitos ucranianos assim como também muitos russos e francamente foge à minha capacidade de compreensão como um homem verdadeiramente mau [referindo-se a Vladimir Putin] é capaz de levar o mundo a uma situação como essa. Está na hora de demonstrar solidariedade, verdadeira solidariedade [ao povo ucraniano]. Robert Lewandowski, festejado atacante do Bayern de Munique, em entrevista depois que seu time derrotou o Eintracht Frankfurt, deixou clara sua posição sobre a guerra de Putin: "Somos todos contra a guerra e jamais poderíamos imaginar que se chegasse a esse ponto. A situação é dramática. O mundo inteiro precisa apoiar a Ucrânia". Dias antes, Lewandowski apoiou a decisão da Federação Polonesa de Futebol determinando que a seleção nacional da Polônia não jogue os play-offs da Copa do Mundo na Rússia marcados para fins de março: "É a decisão certa. Não consigo imaginar jogar contra a seleção da Rússia enquanto a agressão armada contra a Ucrânia segue o seu curso". Schalke rescinde contrato de patrocínio Julian Nagelsmann, badalado técnico do Bayern, também se manifestou sobre a guerra de Putin: "Jamais poderia imaginar que algo desse tipo [referindo-se à guerra] pudesse acontecer na Europa de novo". Ao final da coletiva de imprensa ainda fez um apelo: "Precisamos entender que somos passageiros neste planeta e deveríamos conviver pacificamente uns com os outros para curtir bem nossa breve passagem por aqui". O tradicional Schalke 04, atualmente na segunda divisão alemã, decidiu nesta segunda-feira (28/02), rescindir seu contrato de patrocínio com a gigante estatal russa de energia Gazprom, encerrando dessa forma uma cooperação de 15 anos. Na semana passada, o clube já havia tomada a decisão de retirar o logo da Gazprom do uniforme dos "azuis reais". O patrocínio que ligava o clube e a empresa russa prosseguiria até 2025 e já rendeu US$ 150 milhões ao clube. Na Bundesliga, torcedores e jogadores se manifestaram abertamente contra a guerra de Putin antes dos jogos no último fim de semana. Em todas as partidas foi observado um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do conflito e muitos times entraram em campo com a braçadeira de luto. O Eintracht Frankfurt, por sua vez, enviou uma mensagem clara para Putin através do telão e dos displays de LED espalhados pela arena: "Stop it, Putin"! No pequeno estádio do Union Berlin, An der alten Försterei, o telão projetou antes do jogo a imagem da Pomba da Paz, obra criada depois da 2ª Guerra Mundial por Pablo Picasso, lutador incansável pela paz no mundo. A Liga Alemã de Futebol, em comunicado oficial, se manifestou clara e cristalinamente: "Condenamos o ataque à Ucrânia e à vida de pessoas inocentes. Guerra, seja qual for, é inaceitável e incompatível com os valores do esporte". Clubes russos excluídos de competições Fifa e Uefa, após alguns dias de titubeios, decidiram nesta segunda-feira excluir a Rússia de todas competições organizadas pelas duas entidades. Com essa drástica decisão, a Rússia não poderá participar da Liga das Nações 2022/2023 e está excluída também das eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 que se realizarão agora em março e, consequentemente, da fase final da Copa do Catar. A medida atinge também o Spartak Moscou, que disputaria na semana que vem seu primeiro jogo pelas oitavas de final da Liga Europa com o RB Leipzig. O clube moscovita está eliminado da competição e o Leipzig passa direto à fase seguinte do torneio. É provável que a Rússia recorra dessas decisões junto ao TAS (Tribunal Arbitral de Esportes). Quem mais sofre na guerra é a população civil indefesa. São crianças aterrorizadas, são mulheres que perdem seus filhos, maridos, pais, irmãos. São homens instrumentalizados para servirem de bucha de canhão. São centenas de milhares de refugiados que vagueiam mundo afora, sem eira nem beira. São idosos que no ocaso de suas vidas são confrontados com o horror, um horror cuja extensão é inimaginável para quem conhece a guerra apenas pelo que lê na mídia ou nos livros de História. Sou contra a guerra. Qualquer guerra. Seja quem for o agressor. _______________________________ Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW. Autor: Gerd Wenzel
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